Bem-vindo ao Cromossomo XY

Este blog não pretende ser correto, fonte de pesquisa ou referência para seus interessados. Ele foi pensado para que outros homens e mulheres entendam melhor como nós (homens) podemos ser românticos, chatos e invariavelmente humanos. O que pensamos das artes, das coisas que não entendemos e principalmente de nós mesmos. Neste blog há espaço para homens de todas as idades, raças, classes sociais e orientação sexual. É feito de pensamentos livres, sem dogmas culturais ou religiosos.


Seja bem-vindo ao Cromossomo XY.



quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Facebook, a nova arma mais poderosa do mundo.

Para Alessandra Dayrell, Cyro Mariquito, Gustavo Venceslau, Fillipi Barbiere, Suzana Miró, Sandro Silvestre, Tony Lopes, Crístian Leal e Eduardo Vianna. 

Pessoal, vamos pensar juntos... o Brasil é um país jovem, tem muito o que aprender e conquistar. O passado já não conta mais, mas ajuda a gente a entender como tudo começou e porque muitas coisas necessárias ainda são necessidade desde Abril de 1500. Educação por exemplo. Somos o típico garotão cheio de potencial mas perdido nos seus interesses. Isso aconteceu com a Europa e outros grupos de países dos velhos continentes. Não foi da noite para o dia que a barbárie deu lugar à civilidade. Vamos ter calma, a revolução está em nossas mãos e já está acontecendo. Vamos trabalhar para isso.
Eduquem seus filhos, ajudem na formação de seus sobrinhos, primos, vizinhos... nós seremos os formadores dos novos políticos de amanhã, quiçá, seremos esses políticos também. A mudança não vem de outra camada senão das superiores, mas a força brota na raiz. É de baixo para cima e de dentro para fora. Está nas mãos do povo.
Resignar-se com um vazamento de óleo no norte da Bacia de Campos, assaltos, fraudes políticas, homicídios esquecidos pela força do dinheiro ou demostrações de imperícia e falta de bom-senso é o principal tempero para o que eu chamo de Força de Mudança. É o que dá corpo, liga, consistência a um sentimento chamado insatisfação. Junte a isso uma boa dose de indignação pelo imoral e você será um militante bem armado contra o imprestável.

O Facebook é um ótimo difusor de idéias e ideais. Compartilhamos através dele nossas felicidades, tristezas, conquistas, graças, desgraças e até fofocas destrutivas sem que ninguém nos peça pra fazer, a adesão é livre e os comentários são inevitáveis, alguém sempre vai te "ouvir" e comentar, o que significa que dá certo. Nesta década preciosa, nasceu a maior ferramente de mudança de todos os tempos. Estamos num momento em que a palavra escrita ganha mais força que a falada e o virtual tornou-se uma fuga viciosa do real. O Facebook é o primeiro canal de acesso, e o PC, o seu novo cérebro com um processador Intel e milhares de MEGA de memória, até mais poderoso que o seu cérebro em uso. Que tal usarmos essas importantes ferramentas para azeitar o bom-senso alheio? Isso aconteceu a pouco tempo no Egito e mudou a história daquele país e vem sendo um canal democrático e livre para juntar aqueles "amigos" que pensam iguais a nós e lutam pelos mesmos ideais. Não temos que ser só divertidos e mundialmente conhecidos como um Povo com uma energia extraordinária (brasileiros), podemos ser tudo isso e muito mais, podemos ser organizados, conscientes e educados e em 10 anos colheremos o fruto do novo cidadão.

Você que chegou ao último parágrafo não faz ideia de como me envergonho do que algumas pessoas fazem com suas vidas escancaradas no microuniverso "facebookiano". Os comentários mais empobrecidos e vexaminosos com 60 ou mais comentários de apoio, fulanos que "curtiram" isso ou aquilo e que não fazem a menor diferença em termos sociais. Defendo a prática do entretenimento para entediados, mas defendo ainda mais a conscientização no meio, da exposição do torto e dos meios para fins gloriosos.
O Facebook é muito mais que uma ferramenta de pegação e facilitadora de sexo casual, ele é um aglomerador de pensamentos convergentes que podem mudar o mundo de maneira rápida e definitiva.
Se o Mr. Mark Elliot Zuckerberg não pensou nisso para a sua plataforma ou se não quis que isso acontecesse, ele acabou dando um tiro no próprio pé.

L.P.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Diário de Bordo - Planeta Atacama

Para Alessio Fernando (companheiro de viagem), Fillipi Barbiere, Marcos Motta, Carol Zoccoli e Alex (Sr. Carol).

Quase uma semana depois de voltar de uma das melhores descobertas que fiz na vida, os meus amigos me perguntam apenas como foi a viagem. Não se referem a algo grandioso querem apenas saber as novidades de um passeio qualquer. Mas essa é uma viagem que pode ser descrita e escrita fora da ordem porque surpreende e presenteia os sentidos, não importa a ordem que você registre os fatos, a impressão que se tem no final é que no Atacama se vive mais.

A viagem foi incrível como eu tinha planejado. Aliás, se eu não tivesse planejado teria sido incrível do mesmo jeito. Acho que pela novidade e por se tratar da maior loucura que já fiz na vida. Não relaxei, não descansei, não dormi bem e sangrei todos os dias. Estive perto da curva que separa a vida da morte. Olhei com olhos secos, pele esturricada e cabelos aramados o extremo de um planeta surpreendente. Estive abaixo de zero às 7h da manha e 32 graus depois, ainda eram 15h (leia como quiser). Comi lhama, fava chilena com gosto de terra molhada. Usei 500 ml de hidratante em 4 dias, talvez usasse a mesma quantidade em 5 anos se fosse um hábito. Usei soro nasal e bebi água como se por vício.  

Fotografei sem parar algumas vezes, em outras, eu não conseguia parar de olhar o céu mais limpo do mundo. Vi estrelas como se fosse poeira, uma massa branca que parecia que os olhos estavam embaçados, granulados de areia brilhante. Vi círculos perfeitos de estrelas médias, chuva de estrelas cadentes, uma para cada amigo vivo ou morto, 7 para cada irmã ou todas para um grande amor. Mergulhei em fossas de água gelada e salobra no meio do nada. Caminhei sobre montanhas jovens, as mais jovens do mundo e que eu não sabia que começavam no extremo sul e só paravam no extremo norte, e que de lá, até lá mais longe, ganhavam nomes diferentes e riam das culturas que as separavam inutilmente.

Fui o primeiro homem que conheci com estalactites no Nariz da coriza congelada e rachadura nos pés da escassa umidade. Fui o primeiro homem que conheci a dormir em lençol com cheiro de chão queimado e uma camada de sal sobre a pele. Fui o único homem que conheci que viu a lua nova se por, como um anel de prata, junto do sol . Conheci gente do mundo todo disposta a sofrer pelo conhecimento. Ouvi sotaques do espanhol que variavam do sul ao norte das Américas, da África ao leste da Europa, da Ásia maior, menor e Oceania. Cabeças vermelhas, negras, índias, a minha, todas sob o sol do deserto de um Atacama que sofre um impacto ecológico que emudece um guia de 24 anos apaixonado por aquele chão. Pedidos de não encoste, não pise, não urine, não volte nunca mais, "esse pedacinho de pedra que você destruiu em 1 segundo, a natureza levou 1 milhão de anos para esculpir". “46% do Lítio do planeta são extraídos logo ali na frente, naquelas faixas brancas de sal no horizonte”. Lítio, para salvar da loucura, para fazer o celular funcionar e conjugar o verbo modernizar.    

Escassez de sombra, de sexo, de vida com mais de 1 milímetro no chão. Flamingos da cor da terra, lhamas de cor de nuvem, um par de Lebres andinas que são como ratos fofinhos e gaivotas do pacífico a quilômetros de distância dele. Bactérias que resistem de -40º a +90º Celsius e ainda são rosadas e lindas como as saldáveis peles dos franceses que pisavam nelas. Jorros de água fervente que brotam da terra profunda de 13.000 metros sob pés doloridos de frio. Uma força que perfura rochas e sopra um vapor mal cheiroso do fundo da terra. 

Terra de cães gigantes e gente pequena. Terra de grandes distâncias percorridas por peregrinos de bicicletas, a pé ou de carro. Pilhas lacrimosas de pedras que substituem nossas velas para iluminar os caminhos no além. Lugar de espíritos que não encontram a salvação porque não foram dignos de ascender ao Licancabur, o vulcão-deus, chileno-boliviano, que só aceita o homem que morre em batalha ou de velhice.

Tocar as rochas e sentir montanhas inteiras de cristal de sal estalar como numa orquestra desordenada, tão frágil a 10cm dos olhos, tão forte a 50 passos e gigantesca vista da janela do ônibus.

O Atacama é muito mais que um deserto, é uma entidade com força vital e consciência de existência. É uma criança que sonha em ter tudo ao mesmo tempo mesmo que uma coisa não caiba dentro da outra. Pode ser um sonho, um pesadelo, uma gota de magia pra quem tem olhos e ouvidos de aprender, mas muito mais que isso, o Atacama é uma prova de que o absurdo faz parte da nossa vida e do nosso mundo.  

O deserto mais alto do mundo; O céu mais claro do mundo; A maior concentração de sal fora dos oceanos em todo mundo; A maior cordilheira de sal do planeta. A quantidade de superlativos que o Atacama coleciona faz ferver de turistas a pequena cidade de 8 quarteirões e menos de 3 mil habitantes no norte do Chile. É tão surpreendente que quando chegamos nos perguntamos o que fomos fazer naquela secura, mas quando deixamos a cidade para trás entendemos que para toda busca existe uma resposta ou simplesmente um pensamento poético que justifique a aventura de viver. De resto, é ser feliz.

Até a próxima.
L.P.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Um guarda-roupas e um coração.

Pelo menos uma vez por ano todos nós deveriamos abrir as portas dos nossos armários, gavetas e sapateiras, tirar tudo de dentro e separar as coisas que servem e as que não servem mais. Separar as que podem servir a alguém e doá-las. Rebaixar as roupas que não merecem mais os cabides e dar a elas um novo lugar menos privilegiado nas gavetas entre as surradas peças do dia a dia. Pegar os pares de tênis descolados, velhos e super confortáveis e ajeitá-los para prolongar o uso por mais alguns meses até que possamos comprar outro par que mereça a substituição. Dar sem pena sapatos novos e duros que só foram usados uma única vez por um tempo menor que o que foi gasto para fabricá-los. Quantos as roupas de frio, algumas envelheceram sem uso, caríssimas e etiquetadas, mas sem uso. Algumas calças que ficaram ótimas sob a luz das lojas e nunca mais viram a luz do dia porque um quilo a mais não permitiu que saissem do cabide. Gravatas que foram usadas uma vez nos últimos dois anos e mofaram esperando o próximo nó dividem espaço com aquelas que de tão usadas e esgarçadas não servem nem para amarrar o cachorro na área de serviço.
A vida é assim, uma sucessão de substituições, trocas e armazenagens inúteis. Coisas que não precisamos e acumulamos e que nos tomam tempo, dinheiro e nos confundem com seus valores também inúteis. Assim como essas roupas que rebaixamos e que perdem a importância a cada uso, também são algumas pessoas que estão em nossas vidas sem precisar. Você pode achar estranha a analogia, mas este fato merece nossa atenção.

Depois de uma cirurgia que me tirou do circuito na semana passada eu precisei ficar em casa de repouso absoluto, mas a agitação e a dor do pós-operatório me fizeram perambular de um lado para o outro contando os segundos até os analgésicos fazerem efeito já esperando a hora da próxima dose. Um inferno. Folheei revistas, zapeei nos canais da tevê e revirei o Youtube atrás de algo que pudesse me tomar a atenção antes dedicada àquela dor insuportável. Depois de algumas tentativas e muita frustração a dor cedeu um pouco, mas não desapareceu por completo. Sem ter muito a fazer abri as portas do meu guarda-roupas e comecei a revirar e tirar tudo o que ocupava lugar inutilmente e a tempos eu não usava, como roupas, sapatos, bolsas, caixas, lembrança daqui e de toda parte do mundo. Todo tipo de quinquilharia, até presentes que eu comprei e que não cumpriram seu destino, dançaram. Tudo para não curtir a dor.

Cada peça me lembrou de uma ocasião e de alguém, então comecei a descartá-las como se fossem histórias e pessoas que perderam o sentido pra mim. Não me refiro só a desafetos porque não dou a oportunidade deles se constituirem, mas como aquelas roupas, algumas pessoas não serviam mais para mim, se ajustariam a necessidade de uma outra pessoa, mas não me serviriam mais. Pessoas que um dia foram importantes, mas que vacilaram e seguiram por outros caminhos são como aquelas camisas que saíram do cabide direto para a doação. Outras envelheceram do meu lado e passaram do cabide para a primeira gaveta, e depois para a gaveta das roupas de dormir, as mais macias e cheirosas, mesmo velhas e surradas. Achei algumas que entraram na minha vida por que eram bonitas e baratas, mas se revelaram desconfortáveis e foram esquecidas. Estas também foram descartadas.

Pra que acumular pessoas sem necessidade como fazemos com as roupas?
Porque ter gente ao nosso lado que não combina com a nossa cara e nosso jeito de ser?
A soma das partes daqueles que nos cercam deve contribuir para a construção do "Nosso Monstro Perfeito", aquele "Frankenstein" maravilhoso que é fruto da soma dos defeitos e das qualidades de todos aqueles que nos estimulam e nos ajudam a crescer e amadurecer. Mesmo divididos por núcleos, quando pensamos nessas pessoas, nesses amigos, a imagem do TODO deve ser montruosa com pedacinhos que se encaixam perfeitamente independente do seu formato e da sua cor, como na mitologia grega.

Sem ilusão, atualmente vivemos em uma sociedade de "pessoas-acessórios" que trocamos de acordo com o evento, a viagem, o sentimento e a fase, isso custa caro ao bolso e ao coração. Se pessoas e sentimentos não são descartáveis então devemos ter cuidado com quem deixamos entrar e também onde entramos, porque nosso coração é igual a um guarda-roupas, cabe muita coisa, mas de vez em quando precisamos limpá-lo e separar aquilo que não serve mais para evitar confusão. Ele é seletivo por natureza.
Conhecer gente é lobby, demanda técnica e cabe em uma agenda. Ter amigos é outra coisa bem diferente e demanda muito tempo e dedicação.

Mesmo que as palavras deste texto estejam um pouco difusas acho que a idéia está clara e o guarda-roupas organizado.


L.P.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Porque o Voto Distrital é tão importante.

Pessoal, atualmente um grupo de empresários, intelectuais e estudantes universitários em São Paulo estão fazendo uma força absurda para chamar a atenção das vantagens do VOTO DISTRITAL e tomá-lo como padrão nas eleições no Brasil. Seria uma maneira de evitar que os votos para um candidato seja utilizado para eleger outros de carona e, melhor ainda, evitar que políticos sujos e corruptos falem por nós. O VOTO DISTRITAL aproxima o eleitor do seu representante no Congresso, melhora a fiscalização sobre os deputados e diminui a corrupção. Qualquer opção de uma outra matriz de ideia é melhor do que a que vivemos hoje. Funciona mais ou menos assim, o Brasil seria dividido em 513 distritos, o mesmo número de cadeiras no Parlamento, e cada distrito elegeria seu representante. É quase impossível que um canalha, mal caráter e ladrão seja eleito no distrito no qual se candidatou.

Se você acha que o que você leu acima é suficiente para votar a favor do Voto Distrital, acesse http://www.euvotodistrital.org.br/, para assinar a petição que será enviada aos parlamentares em Brasília, propondo a mudança.

COMO FUNCIONA.
O voto distrital pode ser realizado por diversos sistemas de votação; os mais comuns são por maioria simples (caso dos EUA e Reino Unido) e por maioria absoluta (caso da França), no qual a votação pode ser feita em dois turnos.

Quando o voto distrital ocorre lado a lado com outro sistema eleitoral, é denominado Voto Distrital Misto. No entanto, nos sistemas nos quais o voto distrital prevalece sobre o voto partidário (como ocorre no Japão), ele é conhecido como sistema majoritário misto. Nos sistemas nos quais o voto partidário é mais importante, vigoram sistemas de representação proporcional mista, que não devem ser caracterizados como sistemas "distritais" ou majoritários, mas sim como sistemas proporcionais de voto. Um exemplo de representação proporcional mista é o sistema criado na Alemanha, logo depois da II Guerra Mundial. No sistema alemão, o eleitor tem dois votos: um para o candidato de seu distrito e o outro para uma lista de representantes de um partido político (lista fechada). Após a eleição dos representantes distritais, são empossados mais outros candidatos, retirados da lista partidária, até que cada partido tenha representação global proporcional à fração dos votos que obteve com as listas partidárias. No processo, o número total de parlamentares varia a cada eleição. Dessa forma, um partido que não teve candidato vencedor em nenhum distrito, mas que recebeu 20% dos votos em lista partidária, ainda assim comporá 20% do parlamento; como não elegeu nenhum representante distrital, preencherá sua cota com os candidatos da lista. Esse método impede situações como a ocorrida numa eleição provincial do Canadá, na qual o Partido Conservador recebeu 40% dos votos totais, mas não conseguiu maioria em nenhum distrito individual; nessa conjuntura, o partido elegeu zero representante.

No sistema majoritário misto (também conhecido como sistema paralelo de voto), pelo contrário, os votos distritais e os votos por lista de partidos são independentes. Esse mecanismo eleitoral faz com que a desproporção do sistema distrital seja amenizada, mas continua desfavorecendo os partidos menores.

Ao contrário do que se possa pensar, a eleição de candidatos individualmente (isto é, por candidato e não por partido) não é uma característica exclusiva do sistema distrital de voto nem depende dele, e é plenamente coerente com os sistemas proporcionais de voto. O voto único transferível, por exemplo, permite que os eleitores escolham seus candidatos individualmente, em ordem de prioridade, sem depender das listas de partido.

Mais uma coisa amigos, todos os países que usam este tipo de pleito, se não venceu a corrupção, reduziu seus efeitos e índices pequenos o suficiente para não causar danos a pátria e aos cidadãos.

Preste atenção Brasil.

L.P.

Fontes:
Revistas Isto é, Veja, Jornal O Globo e Wikipédia.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Nada é para sempre.

Todo mundo sabe o quanto o comércio escraviza quem depende dele para viver (poucas folgas, muitas horas de trabalho e muita dedicação). Pra quem decide comprar alguma coisa no dia de folga pode ser até divertido, mas para quem precisa fazer a máquina funcionar de Domingo a Domingo é uma chateação  Não tem almoço em família, festa de aniversário, batizado ou casamento, nada que possa ser mais importante que o trabalho e os lucros. Sei disso porque vivo o drama de ter pais comerciantes, donos de um bar sem regras e horários. Dificilmente almoçamos juntos nos finais de semana porque eles trabalham até as 4h da manhã e por isso dormem até tarde. Quando acordam, mal comem, já saem correndo para trabalhar. Como eu sei o quanto eles gostam do que fazem e o quanto aquilo é importante para toda a família eu tento me adaptar a falta e venho mudando minha forma de assisti-los. Venho frequentando o bar com mais regularidade nos finais de semana para tê-los mais perto e demonstrar meu apoio, mesmo sabendo que a prática comercial roubou-os de mim. Na verdade esse pequeno discurso sobre comércio e consumo é só para amarrar o próximo assunto à ideia central do texto, um incômodo que tive a caminho de uma dessas visitas que fiz aos velhos outro dia. Tudo muda e nada é para sempre.

Num desses domingos, entre o Rio e a Roça, eu sai da casa dos meus pais para visitá-los no trabalho e no caminho entre os dois pontos pude perceber que as coisas andaram mudando. O bairro onde eu me criei se tornou outro da noite para o dia. Geralmente faço esse trecho de carro, mas naquele dia o fiz a pé e isso fez toda diferença, já que o cenário passava devagar e o ângulo de visão era infinitamente mais explorado. Algumas construções ao logo do caminho esconderam o verde dos fundos e os morros que embelezam aquela região pereciam recuar das áreas habitadas (ou seria o urbanismo avançando sobre eles?). Antigamente o cenário mudava como em degradê, as casas eram substituídas por pastos, as estradas asfálticas se resumiam em trilhas estreitas, carros em carroças a tração animal e muita poeira no ar. Era o resumo poético da roça da infância no interior do estado. Era o tempo que voltava e a simplicidade que reinava não importava o século XXI.

Nesse caminho quase não se percebe mais a diferença entre a urbanização e o delicioso caos rural, e arrisco dizer que se eu avançasse além dos meus interesses, onde era lugar de mato e boi deveria haver alguma construção grandiosa para lembrar que o avanço não respeita o bucólico e as nossas saudades. Os vaga-lumes desapareceram e deram lugar a feias lâmpadas econômicas, o som dos grilos e sapos foram substituídos por rádios, televisão e toda sorte do gosto musical típico do interior e o chão batido agora era um cinza-chumbo de asfalto mal aplicado que algum político usou pra comprar uma dúzia de votos. Depois de alguns minutos caminhando e pensando, me dei conta das mudanças que aconteciam além de onde os olhos podiam ver e tentei analizar nas minhas profundezas as mudanças que me fizeram outra pessoa. Pensei nos amores que deixei para trás sem me preocupar na falta que isso faria quando o romantismo fosse a única saída para a dor da solidão. Pensei nas gentes que abrem mão e abandonam algo ou alguém querido em nome da novidade / facilidade / praticidade. Pensei que nada é de fato para sempre. Lugares como este e pessoas como nós mudam com rapidez e só o distanciamento e o tempo nos dão a dimensão dessas transformações. É preciso olhar do presente para o passado para entender onde quero chegar. Talvez por isso seja tão difícil abrir mão de um relacionamento complicado e triste, pelo mesmo motivo citado acima. Observamos a vida do ponto onde está ruim para um passado de amor e flores, e, apegados a esse passado, não acreditamos que acabou, por isso tentamos reviver o que foi sublime e retomar a paixão. Não consideramos que durante o processo nos transformamos imperceptivelmente em outras pessoas, outro casal. Assim também acontece com os heróis viris do cinema que um dia se tornarão os país e avós dos novos heróis, até que desaparecerão como os vaga-lumes da minha infância, e assim como os vaga-lumes  ninguém vai notar que acabaram. Nossa família e amigos, uma a um, nos deixarão até que um dia também deixaremos alguém e tudo mais para trás.

Se nada é para sempre pelo menos que nossas obras do bem sejam, e que o legado das nossas ações fique como um farol para as gerações futuras. Quando verde for tão somente nome de cor e a natureza deixar de ser referência de beleza, que outros valores sejam lembrados em nome de tudo aquilo que tentamos cultivar, que lutamos para preservar. O progresso não é uma praga, mas sinto saudade da calma de outros tempos no lugar onde me criei e me descobri, onde me reabasteço e guardo as pessoas que amo. O valor dos pequenos milagres que vivemos hoje será multiplicado por um milhão quando o tempo passar o suficiente ao ponto de perdermos nossas referências. Ele será compensado pelo tanto que nós os valorizamos enquanto podíamos e o pesar por tudo ter envelhecido, ruído ou substituído se tornará menos dolorido quando no caminho das novas descobertas você concluir que se o tempo passou e levou a permanência com ele não afetou suas lembranças de um dia ter sido parte de todas aquelas delícias.

Ame as suas histórias e seus personagens do presente para que no futuro eles ainda estejam com você e te alimentem o coração e saciem a saudade sem a dor de tê-los perdido, na certeza que o resultado de tanta experiência está em cada detalhe daquilo que hoje você chama de "EU". Acho que assim da para ser mais feliz quando os meus olhos procurarem inutilmente os vaga-lumes de Xerém.

Até breve!

LP.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O poder da critica e do elogio.

Para Eronildes de Nicolas, Paulinha Paiva e Augusto Frederico Caldwell.

Nesta manhã eu recebi de um amigo um daqueles emails com texto sem autor e discurso raso digno das correntes unanimes. O texto tinha um tom evangelizador com palavras afáveis e ligeiramente vazio de intenção. Falava muito em Deus e de uma certa doutrina religiosa que me pareceu muito mais persuasivo no intuito de angariar fies do que educativo na intenção de indicar caminhos para uma vida melhor. Como do caos e da escuridão nasceu a luz, uma única frase no conteúdo "pop-nonsense" do texto me fez pensar em algo muito importante para a evolução (ou involução) do indivíduo como pessoa. "..lábios que se moldam apenas para criticar afastam os beijos"*.

Antes de prosseguir no raciocínio gostaria de esclarecer que a palavra indivíduo designa um elemento de uma certa espécie, que pode ser um homem, um cão ou um pássaro. A palavra pessoa designa um elemento humano da sociedade civilizada que é diferente do conceito de homem, como o das cavernas, o Neanderthal e de alguns exemplares humanos que conhecemos e que sequer podem ser chamados de pessoas porque sua evolução foi equivocada, como exemplo, Hitler, o assassino de Realengo e outros.

Voltando ao assunto anterior, depois que li o tal e-mail e sai para trabalhar, optei por fazer o trajeto a pé e aproveitar mais vinte minutos para pensar a respeito e entender porque o assunto me chamou tanta atenção. Até que as questões se ordenassem na minha cabeça muitas perguntas ficaram sem respostas e dependeram que algumas gavetas fossem reabertas no consciente, isso demandou tempo e uma extrema vontade de obter respostas, porque revolver sentimentos recalcados resulta em reviver sofrimentos e lembranças merecidamente esquecidas. Apesar de ter me lembrado de muitas coisas que, acredito eu, levarei semanas pra esquecer novamente prometo ir direto ao assunto.

A minha leitura da frase supracitada me levou por um caminho que talvez o autor do texto no e-mail jamais pudesse imaginar quão distante e profundo seria. Quando criticamos alguém devemos ter cuidado para que essa atitude não seja a porta inegável da inveja e da insegurança. Quase que em sua totalidade a crítica tem como base orgulho e egoísmo. Aquele que critica quase sempre deseja mudar os outros segundo suas expectativas. Quando meus gostos, preferências e necessidades estão sempre em primeiro plano, então os outros podem ser vistos como inconvenientes e, por isso, posso me valer da crítica para atingi-los. A crítica, então, pode se tornar uma arma para enfraquecer ou desestabilizar a segurança, ou a autoconfiança alheia. Alguém com um ego frágil e suprimido é mais facilmente influenciável e submisso.  Por outras ocasiões a crítica nasce da inveja, ou da sensação de uma baixa auto-estima. EMOÇÕES E DEFICIÊNCIAS QUE NÃO ACEITAMOS EM NÓS MESMOS SÃO PROJETADAS SOBRE OS OUTROS SE TORNANDO UMA MANIFESTAÇÃO DA PRÓPRIA REJEIÇÃO. É difícil aceitar, mas a verdade é que na maioria das vezes criticamos nos outros o que cultivamos em nós mesmos. Isso a gente aprende observando ou, no meu caso, ouvindo a Rosane numa sessão de psicoterapia.

O contrário da critica é o elogio, benefício maior para o corpo e a cabeça não existe (escrevo essa parte sorrindo). Quando somos elogiados desencadeamos uma série de respostas orgânicas que melhoram a nossa saúde, trazem bem-estar e proporcionam sucesso. Este blog por exemplo nasceu de um elogio de alguém que considero muito importante e um exemplo de pessoa. Depois de ler um pequeno texto que escrevi em homenagem a um amigo falecido ele disse que eu escrevia bem. A despeito dos erros de ortografia e concordância ouvi que devia escrever mais e por isso a motivação de criar o CXY, mas se fosse o contrário e ele dissesse que apesar da poesia e da emoção das minhas linhas meu português era sofrível, talvez eu não fosse capaz nem de escrever mais um e-mail para alguém ou me tornaria inseguro o suficiente ao ponto de estragar todas as minhas apresentações profissionais.

Muitas vezes uma mãe põe a perder o talento de um filho porque ao invés de elogiar a pintura no papel critica a sujeira no chão, mesa e paredes. As vezes somos cruéis com nossas criticas quando poderíamos simplesmente elogiar e tornar aquele momento a gênese de algo muito maior e mais importante. O elogio é o primeiro passo na arte de amar as pessoas. A crítica degrada, deprime e desestimula, mas o elogio é um bom alimento. Há no coração humano um desejo intrínseco e natural de ser apreciado. Quando começamos a admirar e elogiar, abrimos um vasto caminho para o amor.

A ideia desse texto não é criar monstros mimados, orgulhosos e arrogantes com elogios sem fundamento, mas saber criticar e elogiar na hora certa com a devida argumentação. Se não puder argumentar e tornar positiva uma crítica não fale nada ou opte por um elogio tomando outro ponto de vista como base. É mais maduro, mais bonito e combina com a nossa geração.

Quando alguma coisa chamar sua atenção de alguma forma, te tocar profundamente, tire vinte minutos para pensar a respeito, as vezes, do nada, achamos respostas que farão a mínima diferença na nossa vida mas que podem ser um farol na vida das pessoas que amamos.

Nos vemos por ai.
L.P.

* O autor do texto é desconhecido, mas quando colei a frase no Google apareceu seu autor, George Vandennan.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Feliz Dia do Amigo

Para Tony Lopes e todos os meus amigos.

Já faz duas semanas que não posto no C.XY por falta de tempo e cabeça para escrever. Pensar no que fazer para ficar rico me absorve metade do dia, na outra metade tenho que trabalhar. Ando perseguindo a receita do sucesso e o chamado "pulo do gato", aquele insight que mudou a vida do Accioly e outros antenados pelo mundo que souberam aproveitar uma oportunidade onde faltava alguma coisa. Isso tem me tirado o sono, mas minha inteligência mediana e a falta de tempo para observar as coisas ao redor já me faz pensar que só de melhorar o que os outros criaram e ganhar algum dinheiro com isso já esta bom. Não quero trabalhar duro a vida inteira. Correr atrás de dinheiro e não ter tempo para fazer outras coisas. Quero curtir minha família, ter tempo para viajar e curtir meus amigos. Aliás, ando pensando bastante nisso ultimamente, acho que tempo será, no futuro das megacidades, uma valiosa moeda de troca. Do que adianta ter dinheiro se você não tem tempo de gastá-lo? Acho que essa questão devia ser julgada no Congresso afim de diminuir as cargas tributárias e reduzir 30% do tempo que trabalhamos e que só serve para pagar impostos e nos agraciar com férias de 60 dias divididas em 2 semestres. Ainda sobraria 3 meses para encher o governo de dinheiro. Sobraria menos grana para os escândalos e mais páginas nos jornais e revistas para falar de outras coisas mais importantes. Se o brasileiro trabalha 4 meses por ano só para pagar tributos existe um desperdício de tempo (lê-se: vida) muito grande, e é uma transgressão a legislação e aos direitos humanos. Não dá pra ser plenamente livre com a escravidão disfarçada de impostos (mal aproveitados) e traços da mesma linha que costurou o feudalismo na barra da saia da democracia. Enfim...

Eu sempre introduzo demais e acabo me perdendo. Eu estava falando de tempo para curtir os amigos e acabei misturando outros assuntos.

Voltando ao tema amigos, nesta semana, entre os dias 17 e 23 de julho celebra-se a semana da amizade, e hoje, dia 20, além de ser o aniversário do meu amigo Tunico, também celebra-se o dia da amizade. É uma data comemorada em todo o ocidente, sem apelo comercial, sem obrigação de retribuição e isenta de intenções boas ou más. Sabem porque tamanho desprendimento e liberdade? Porque amizade é isso, amor sem cobrança, afinidade sem restrição e nenhuma preocupação se eu ou você amamos mais, ou menos, mais uns do que o outros. Se for diferente abra o olho, não é amizade.

Vocês já repararam que o dia dos namorados, mães e outros bichos, se você não "chega junto" fica um clima estranhíssimo?! Se a coisa não for valorizada na mesma medida gera uma sucessão de agravos ruins de contornar e um desgaste que era melhor que o tempo tivesse engolido a data com o outro preso a ela. O Dia do Amigo também está livre disso, em tese deveria estar.

A amizade foi pensada para ser o amor livre do sexo, mas que não reprime a prática para aqueles que misturam tudo numa boa, e para essa modalidade deram o nome de Amizade Colorida. Os amigos coloridos são capazes de tudo sem cobrança e com muito desprendimento, mas dependem de algo que eu ainda não aprendi, que é evoluir como ser humano. E por falar em cobrança, a amizade nasceu livre dela, mesmo quando falamos de casais ligados afetivamente, a amizade deve ser a liga entre eles, o principal ingrediente da fórmula do amor, a base para a construção do respeito mútuo. A cobrança ceifa a amizade verdadeira porque é um desrespeito a individualidade e a liberdade de escolha, que são fundamentais entre parceiros-amigos e para os que vão além, mesmo o ciúme apimentador deve ser dosado com consciência humanitária para não se tornar desrespeitoso.

Ainda sobre a amizade, já faz algum tempo que eu assisti um filme chamado Antes do Amanhecer, que conta a história de um americano (Ethan Hawke) de férias pela Europa e que conhece uma estudante francesa na Áustria. Durante um passeio de trem ou ônibus, não me lembro agora, eles falam do amor, das coisas que acreditam sobre ele e das teorias de sua origem. Num dos diálogos mais lindos que já vi no cinema e na vida, a personagem de Hawke diz que acredita que nos primórdios da humanidade, quando os seres humanos eram contados as centenas e não aos bilhares como hoje, Deus precisava de almas para encher os novos frutos da união e do amor daquelas homens. Então ele começou a repartir, dividir e multiplicar de algumas matrizes de alma, novas almas para a população crescente na terra. Quando as pessoas frutos das mesmas almas matriciais se esbarram, elas se reconhecem e se afinam tornando-se amigas e, vez por outra, amantes, mas principalmente irmãs. Eu acredito nisso. É uma alegoria linda, confortável e que garante que nós não estamos sozinhos, mas que aumenta consideravelmente a responsabilidade daqueles que chamamos de amigo e reduz, drasticamente, o número deles na nossa vida.

Talvez a amizade seja mesmo isso, seja um naco da nossa alma que alguém carregue e cuide. Sentir ciúme de um amigo é o mesmo que querer de volta esse pedacinho de você ou querer mais dele. Seja dizer em outras palavras que ele não está cuidando bem da sua porção nele. É ser descaradamente egoísta e possessivo. Sentir saudade, fazer um carinho, abraçar, dizer que ama faz manter vivo e quente o que nós temos de melhor no outro, porque os nossos amigos, mesmo sabendo onde pecamos, nos ama e valoriza o que temos de melhor até submersos em falhas.

Eu sou seu melhor amigo, que é o melhor amigo de outra pessoa, que tem como melhor amigo alguém que eu não conheço, mas valorizo, porque dessa forma mantenho ligado todos os pedacinhos de mim que um dia foram um só e que ainda se dividem. Isso é liberdade. Eu sou seu amigo mediano, por falta de tempo de descobrir onde mais nos afinamos, mas estou por perto para quando precisar. Eu sou seu amigo que só vejo a noite, nos finais de semana, uma vez por ano, mas brilho quando te encontro porque você já me ganhou e não temos obrigação de afirmar a amizade porque sabemos que não faltaremos quando preciso for. Eu sou seu amigo de esquerda, de direita, de centro, de fora do seu país porque tenho boa vontade pelas coisas que te interessam. Aos Amigos de hoje, de ontem, de sempre, de quase nunca e principalmente os amigos que nunca mais encontrarei, sou seu amigo porque você precisa de amigos e eu também, mas não seria se você não fosse tão maravilhoso para mim.

Feliz dia do amigo, feliz todo dia ao seu lado, feliz foi o dia em que te conheci.
L.P.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

A Insatisfação e o Comichão da Mudança.

Para Gabriel Caldas e Tiago Soares.

Já faz algum tempo que venho pensando em mudar. Mudar meu jeito de ser. Mudar de trabalho, ares, cidade, país. Mudar minha maneira de pensar. Perdoar quem merece. Apagar da agenda alguns nomes, esquecer outros sobrenomes. Aceitar no fecebook só os pedidos de quem eu não conheço. To pensando em começar a pensar como meu pai, mais cartesiano, sorrir mais pra mim do que para os outros. Acho que vou aproveitar pra mudar meu guarda-roupas também, tenho muita roupa bege, caqui, verde musgo, preto e branco, ta faltando cor. Quero mudar o meu perfume, meu corte de cabelo, os móveis da sala. Se eu pudesse mudaria a vista da minha varanda, tirava o aterro do Flamengo e colocava a Floresta da Tijuca ou os Arcos da Lapa, pois de casa eu já mudei. Porque mudar faz tanta diferença quando achamos que algo vai mal?

Uma mudança ou transformação significa uma alteração de um estado, modelo ou situação anterior, para um estado, modelo ou situação futuros, por razões inesperadas e incontroláveis, ou por razões planejadas e premeditadas. Mudar envolve, necessariamente, capacidade de compreensão e adoção de práticas que concretizem o desejo de transformação. Isto é, para que a mudança aconteça, as pessoas precisam estar sensibilizadas por ela. Perceber a dinâmica das mudanças é uma necessidade. Viver atualizado é uma questão de sobrevivência e uma maneira de visualizar melhor o futuro, já que os novos tempos exigem uma nova postura de pensamento.

Existe um mundo que está acabando e outro que está começando e as pessoas (isso envolve eu e você), naturalmente, costumam lidar com isso de maneira defensiva, com temor ou rejeição, na maioria das vezes. Não adianta querer mudar tudo nos momentos que algo vai mal e depois de uma boa noite de sono reconsiderar. Para mudar é necessário uma overdose de insatisfação do estado do permanecer e do continuar. Acordar pela manhã imbuído de força de mudança. Usar todas as ferramentar em mãos para isso e buscar possibilidades de ter as outras que faltam. É importante saber que a maior motivação para mudar o que não te interessa mais está dentro de você e aceitar a condição que para qualquer escolha existe um preço a pagar. Dedicar horas amadurecendo as estratégias e se dedicar a elas como uma religião. Eu, sinceramente não conheço uma única pessoa que quisesse mudar de verdade e que não tenha obtido êxito. Se você mergulha no propósito, não tem como dar errado. Mesmo que você se arrependa no futuro e queira mudar tudo de novo.

Se você pudesse mudar alguma coisa agora, o que mudaria? Qual seria o impacto dessa mudança na sua vida? Quais os benefícios que tal mudança traria para a sua vida? E se essa mudança te afastasse das pessoas que você ama? Mesmo sendo uma pessoa esclarecida é impossivel não pensar nisso. O tempo que as coisas levam para acentar depois de uma transição é relativamente grande, mas depende de cada um. O tempo para tranformar o novo universo na mais branda zona de conforto pode demorar um pouco, mas é preciso ter muito cuidado porque nela residem dois inquilinos permanentes, a comodidade, que enterra alguns indivíduos e a insatisfação, que faz do céu o seu limite. Não adianta viver mudando se a mudança não está dentro de você, pode custar caro e não resolver nada.

Primeiro mude por dentro e deixe a mudança transbordar, em seguida tudo a sua volta mudará também. Ser feliz vai depender das suas escolhas.
Eu precisava mesmo falar sobre isso!!! (suspiro)

L.P.

sábado, 25 de junho de 2011

Justiça, Gratidão e Humildade.

Para Vinícius Duarte e Marcia Catita Evangelista.
(Este texto não é uma discussão política, mas uma ode ao bom senso).

Sabe quando você termina uma leitura, um filme ou uma refeição e fica doido pra ter alguém do lado para falar da experiência? Pois é, na semana passada vivi algo parecido depois de ler uma matéria curta e muito feliz na Veja sobre a aproximação de Dilma Rousseff e FHC. O governo da situação, através do ex-presidente Lula e seus lacaios, sempre abominaram a ideia de uma ação de desagravo e gratidão ao também ex-presidente FHC por sua contribuição por azeitar a máquina e colocar o Brasil nos trilhos. Lula quis que o povo brasileiro atribuísse tamanha bonança ao seu governo e que como Getúlio Vargas, seu nome fosse escrito com mérito na mesma constelação onde brilha o cruzeiro do sul, mas isso é política demais e não merece ser discutido agora. O que mais me deixou satisfeito ao ler a matéria em que a presidente Dilma escreveu de próprio punho (?) uma carta a Fernando Henrique parabenizando-o pelos seus 80 anos foi o fato dela mencionar que todos sabiam e admitiam que qualquer decisão ou ação da estrela vermelha nos últimos anos foram baseadas nas determinações do mestre FHC. Diante da vaidade de Lula e da real rivalidade entre os partidos mais poderosos do Brasil, eu pensei que isso jamais aconteceria, mesmo para mim estando claro que um governo seguia a risca os caminhos do outro, para uma classe de Brasileiros beneficiados pelo populismo “lulesco” isso era impensável.

A justiça se fez, querendo Lula ou não, no momento em que a presidente diz que reconhece que Fernando Henrique foi, e ainda é, um “... político habilidoso, o ministro-arquiteto de um plano duradouro de saída da hiperinflação e o presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica...” no Brasil. A maneira gentil de agradecer a contribuição e passar por cima da grosseria arrastada anos após ano por Lula ante um acordo de cooperação em benefício da pátria me comoveu ao ponto de pensar que o simples reconhecimento faz com que prêmios ou bonificações sejam completamente desprezados diante dessa moeda emocional tão valiosa.

Justiça e gratidão dependem de um fator crucial para serem reconhecidos como sentimentos, o aditivo bom-senso – aliás, como quase tudo na vida. Ser justo implica em não tomar para si o que pertence a terceiro(s), nem negar a eles o que lhes é de direito ou devido, isso é muito mais que ser honesto ou ter caráter. Num país onde a cultura política acoberta as falcatruas de uma minoria e o povo não tem voz firme o bastante para vencer anos de prostração e cabresto fica mais difícil pensar em justiça como substantivo. Não me refiro à justiça jurídica, mas aquela mais simples, que nasce nas pequenas atitudes dentro de casa, no trabalho, entre amigos e irmãos. Reconhecer as virtudes que faltam em nós e valorizá-las no outro, mesmo sem um único real em troca gera um bem imensurável e é mãe de outro sentimento conhecido por gratidão. Nossa presidente, em demonstração de grandeza política, dá um show de justiça numa atitude de esforço mínimo, mas de proporção psicológica extrema. Foi elegante em aproveitar a oportunidade do aniversário de FHC para prestar-lhe uma homenagem em carta aberta e discurso simples de gratidão rasgada por ser o mentor de tal mudança que gozamos hoje.

A Gratidão, por sua vez, depende de humildade para perceber que sem as colaborações que nos ergue vida afora, qualquer passo em direção ao erro, seria derradeiro, mas temos oportunidades de aprender e fazer diferente, seja por interesse material ou por valorização do material humano. Um favor pode não custar nada ou custar uma vida quando negado. Um favor pode ser a porta de entrada para o sucesso ou para o fracasso, se estabelecer na posição é problema de cada um.  Se o PT deu um tiro no pé por não ter outro candidato para o governo (Palocci estava sujo demais na ocasião, e se mantém) e elegeu uma mulher para o cargo de soberana do Brasil, ele acertou em substituir a vaselina de Lula pela sensibilidade e humildade de Dilma. Justiça seja feita, pode até existir uma legião por trás das decisões da mulher mais poderosa do mundo, mas seu bom senso é inato e se sobre sai as mancadas de quem erra tentando acertar. 

Pratique a justiça e exagere no bom senso. Dormir num travesseiro livre de ácaros e culpa faz um bem danado à saúde. Nos vemos por ai!
L.P.


quarta-feira, 15 de junho de 2011

Solidão que nada!

Para Sidnei Santiago, Lidia e Paulinha Paiva.

O final de semana passou e com ele a ansiedade de que algo não seria bom em 12 de junho. As vezes esquecemos que ter amigos é a melhor coisa do mundo depois da família. É ter a deliciosa sensação de que tudo está devidamente apoiado e que nunca estamos sozinhos. E por falar em solidão, esse foi o tema da minha última postagem no C.XY, e pelo que tenho lido sobre o tema e de acordo com a psicanálise, esse é um dos maiores desafios da humanidade, pois não escolhe sexo e idade e devasta vidas mundo a fora.

Geralmente a solidão nunca vem sozinha. Está ligada a insegurança, a dificuldade de se socializar e (ou) a algum trauma vivido. É fato, e se não me engano já falei sobre isso aqui mesmo no blog, que nós não fomos programados geneticamente nem culturalmente para vivermos sozinhos, temos uma necessidade biológica de viver em grupo. Produzimos melhor quando trocamos com alguém, precisamos da aprovação dos parceiros quando fazemos algo novo, alguém que diga que algo está irretocável, bem feito ou bem dito, e mesmo que não esteja, até para aqueles difíceis de aceitar opinião, quando refazemos, nos saímos muito melhor.
Isso tem a ver com a insegurança e a auto-afirmação, mas muito mais com a aceitação do grupo (ou par), a admiração alheia e a sensação de pertencimento.

Quando disse acima que alguns fatores colaboram com esse sentimento aterrador, fiz por conhecimento de causa. Por algum tempo, mesmo cercado por uma família maravilhosa e amigos especiais, me senti muito sozinho por causa do fim de um relacionamento muito importante, todos sabiam o quanto havia sido ruim para mim, mas querendo ou não, aquele sentimento era a coisa mais importante e mais bonita que tinha me acontecido e a perda da pessoa amada me deixou com um volume de sentimentos que eu traduzia como amor e que agora não tinha pra quem doar, e mesmo se tivesse o formato não seria o mesmo e apodreceria dentro do peito de qualquer maneira. O vazio e a solidão me empurraram ladeira abaixo e tive que aprender a conviver, foi muito difícil, mas foi também uma escola. Eu estava cercado de pessoas e ao mesmo tempo sozinho, triste e vazio, nada era de fato importante ou incrível ao ponto de atrair minha atenção ou ter algum valor significativo. Nada me tirava da escuridão e do isolamento. O tempo passou e hoje parece que não aconteceu, a experiência existiu e deixou cicatrizes indeléveis na alma, mas foi como numa escola de agentes do BOPE. A experiência criou uma camada espessa na couraça que eu achei até que jamais me sensibilizaria novamente, mas ao invés disso, me ensinou a ser mais firme e valorizar cada coisa de maneira independente, trouxe mais sensibilidade, segurança e a garantia de uma vida melhor. Estabilizou-me emocionalmente (pelo menos eu me sinto assim!). Dessa lição, aprendi que existe a hora de ficar sozinho mesmo, de digerir o aprendizado e transformar todo e qualquer volume de sentimento apodrecido em amor próprio.

A solidão é algo tão silencioso que as vezes chega de mancinho e se instala mesmo quando a companhia parece ser a melhor. Muita gente procura fazer parte de grupos ao qual nunca pertenceu e nunca pertencerá porque jamais haverá química entre os seus, ela é fundamental. Dividir ideais, opiniões e paixões faz com que as pessoas se unam e se completem e assim produzam muito mais movimento e coisas das quais se orgulharem e isso gerará ainda mais benefícios a esse grupo. O contrário disso é a reclusão. Você está onde não deveria, gastando uma energia vital fundamental e cada vez mais perto do exílio. Não adianta admirar se você não tem atributos que fundamentem a relação, e o resultado é a sensação de estar sozinho a dois ou num grupo.

Cada vez mais pessoas procuram por psicoterapia e terapias de ocupação para afastarem a solidão, mas uma coisa que elas se esquecem de fazer é procurar saber de onde isso vem, se a causa não for depressão, ou como dizem doença da alma, é somente falta de adaptação ou de um propósito estabelecido. Quem nasceu para plantar flores não vai se adaptar ao um escritório de contabilidade, esse florista inato se sentirá insatisfeito, triste e recluso e o soldo disso tudo é a solidão. No entanto, esse monstro que a gente mesmo cria, não tem nada a ver com a falta de uma doutrina religiosa e convívio social, é fruto de uma mente adoecida ou, no meu caso, falta de diálogo interno. Santo Onofre, que tem seu dia comemorado também em dia 12 de junho, viveu 70 anos sozinho no deserto, mas nunca se sentiu só porque estava bem consigo mesmo, atribuía sua vida de ermitão a um propósito divino. Faltava lhe de tudo, da roupa a comida, mas não lhe faltava um propósito.

Voltando ao assunto, o dia dos namorados passou e não doeu, não doeu como doía antes e por mais que eu esperasse a dor e fizesse piadas com isso, ela não veio e me surpreendeu. Estive bem sozinho, sem franzir a testa, sem ter taquicardia ou mau humor porque estava bem comigo, com meus amigos e feliz com a minha família. Mesmo com o coração desocupado a casa estava limpa e perfumada com as velas acesas para quando o amor resolvesse voltar, e as únicas ferramentas que venho usando para a sua manutenção são o amor próprio, o auto-respeito e um pouquinho de maturidade.
Nos vemos por ai!

L.P.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Rio 37° C.

Para Glaucia Nunes.

Nem preciso dizer que as noites deste último final de semana foram as mais frias desse outono porque todo mundo percebeu. Era nítida a adesão nas ruas de casacos, cachecóis, botas e meias, aliás, muitas meias e casacos para segurar aquela brisa oportunista que adora uma fenda e um mínimo decote para soprar e arrepiar. Quanto mais fino o sopro, mas profundo o arrepio, quanto mais fina a roupa, mais nítido o efeito (risos).

Sábado a noite, eu e uns amigos fomos comemorar o aniversário de uma amiga no Devassa do Flamengo, e a noite chuvosa, também estava fresca demais para os padrões do Rio de Janeiro. Bebidas quentes, pratos fumegantes e roupas quentinhas desfilavam no bar de um lado para o outro. As mulheres, cheias de roupas e cores, só mostravam o nariz, era o único indício que existia vida sob tanto cabelo e pano. Os homens, que no geral suportam mais as baixas temperaturas, se arriscavam nas óbvias camisas de malha, mas perceberam que uma jaqueta tornaria a ocasião mais confortável. Os toldos abertos, translúcidos e molhados, refletiam a luz dos postes em cada gota de chuva que brilhavam como estrelas que, naquele momento, dormiam sob montanhas de cumulonimbus (google). Este era o cenário.

Depois de muitas conversas engraçadas, os grupos se dividiram para a próxima etapa da noite, muitos voltariam para o aconchego dos seus lares e outros continuariam a desbravar a noite fria até as primeiras horas da manhã. Eu estava no primeiro grupo e voltei pra casa também, mas uma coisa que me incomodou depois de muito tempo sem pensar a respeito foi o fato de eu estar voltando para casa sozinho.
Sábado a noite e cama não combinam. Não é lugar de homem solteiro, aliás, não é lugar para ninguém com mais de 21 anos ficar sozinho, a não ser que esteja doente, com dor de dente, "flatulente" ou indigente (lê-se muito pobre), o que não é o caso de muito solteiro(a) profissional que eu conheço.

Ficar sozinho no Rio de Janeiro pode significar, entre outras coisas, que o verão ainda não acabou e a conjugação dos verbos RELACIONAR e NAMORAR, só começa na alta temporada outono/inverno. Agora é a hora do povo sumir, juntar-se aos aconchegantes 37º C. de outra pessoa, assumir um romance e brincar de casinha. Festas, nightclubs e noitadas podem ser incríveis, mas de vez em quando abdicar disso em função de uma boa companhia e um bom vinho em casa, também pode ser muito prazeroso.

Assistir tevê, dormir de mochilinha e todas aquelas coisinhas de quando namoramos é confortável, saudável e faz um bem danado para a cabeça. É tão saudável que uma pesquisa americana (tinha que ser) revelou que relacionamentos sérios proporcionam a mesma estabilidade emocional de quem ganha R$170.000,00 por ano, ou seja, a mesma felicidade de um salário de R$14.000,00 por mês pode estar te esperado de pernas cruzadas no Cafeína, na fila do cinema, fazendo compras no Extra ou no Baile Charme sob o viaduto de Madureira. Tem gente de todo tipo e para todos os gostos esperando o cupido com a bunda na janela.

Já repararam que a maioria dos casais fazem aniversário de namoro entre abril e setembro? Alguém tem dúvida de porquê se comemora o dia dos namorados em Junho? O frio dá uma força para que os relacionamentos aconteçam, mesmo sendo inerente ao homem buscar por uma companhia, no inverno o instinto toma conta, força a barra mesmo. É uma ajuda da natureza diante da resistência de alguns grupos. Tá todo mundo querendo emagrecer, alisando o cabelo e modernizando os jeans para não ficar para 2012, porque se você ainda não foi convidado para jantar no próximo final de semana, muito provavelmente não será e é melhor pensar em alguma coisa para fazer, caso contrário, um bom livro, Homeopax e cama.

...continua na próxima semana, 13/06.

L.P.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Tratado sobre o tempo

Para André Lynch, Fábio Muniz, Marcos Dávila, Patricia Avelar, Leandro Massaferri e Airton Mendonça.

Ontem, antes de dormir, dei aquela última olhada nas atualizações do Facebook e a última coisa que li foi o Andrezinho dizendo que a semana tinha se arrastado, eu discordei na hora, para mim ela passou voando. Quando me deitei veio aquele turbilhão de pensamentos que a gente não consegue evitar e todo tipo de especulação para uma explicação do porquê do tempo passar tão rapidamente. Eu sempre acreditei em referencial, e até experimento um pouco disso toda vez que viajo, pois quanto mais coisas você faz, e quanto mais distintas uma das outras são, fazem parecer que o tempo rendeu, mas ele só foi bem aproveitado.

Nunca acreditei que isso tivesse a ver com o fim dos tempo segundo os livros religiosos, pois essa sensação de emergência temporal varia muito de cultura, cidade e pessoa. Não é possível que no Rio o dia tenha 18 horas, em São Paulo, 9h e em Vitoria ou São Matheus, 32 horas. O dia e a noite continuam tendo o mesmo tempo, os relógios estão aqui para nos provar isso. O diferencial é ter, ou não, coisas para fazer, sejam úteis ou completamente inúteis

Quando acordei esta manhã, antes até de abrir o olho, fui pesquisar pra entender melhor o porquê dessa sensação e olhem o que eu descobri:

Para a psicóloga Maria Alice Pimenta, professora da UFRGS, a noção de tempo tem muito a ver com a nossa memória e nossas expectativas. Quando éramos crianças não tínhamos nenhuma noção do nosso tempo, por isso tínhamos grandes expectativas para que algo acontecesse. Na hora eu não entendi muito bem o que ela quis dizer, mas depois percebi o óbvio. Com o cotidiano e a baixa expectativa por novidades, o tempo parecer mais veloz, "avoa" como diria minha vó Cecília. Só para ilustrar o comentário tente se lembrar do dia que marcou aquele encontro super esperado e o dia parou, a tremedeira durou a tarde toda e a cada 2 horas, quando você olhava no relógio, só tinham passado 15 minutos (rsrs). E aquela resposta da entrevista de trabalho que mudaria a sua vida e que não chegava nunca, quase te derrubou de tanta dor de cabeça, daí você tomou 3 Neosaldinas, que a bula promete efeito em 15 minutos, mas nunca aconteceu. Sem falar naqueles que acabaram de perder seu emprego, o tempo que não tinham antes passou a sobrar e se tornou incrivelmente inútil (relaxa Faísca).

Um outro estudioso, que não vou lembrar o nome dele, diz que nosso cérebro é extremamente otimizado, ele evita fazer duas vezes o mesmo trabalho, por isso a maior parte de nossas ações diárias é automatizada. Quando você vive uma experiência pela primeira vez ele dedica muitos recursos para compreender o que está acontecendo, isso acontece, por exemplo, quando estamos aprendendo a cozinhar, digo por mim. No início é tudo muito complicado, mas com a prática torna-se algo em que você não precisa mais "pensar" para realizar. Estas ações automatizadas passam despercebidas por nós, ou seja, o que faz o tempo parecer que acelera é a rotina.

Outro fator que desencadeia esta sensação é a ansiedade, muita coisa pra fazer, mais tecnologia e muito mais cobrança. O maior problema para nós - digo nós, para aqueles que já passaram dos 30 anos - foi ter vivido numa época pré-internet e pré-informatização, numa época em que tudo demorava e nada era urgente, tinha-se prazo para desenvolver seus trabalhos e projetos, mesmo porque, não tinha outro jeito. Agora, nós mesmo nos cobramos isso porque podemos comparar entre morosidade e rapidez.
Porque não pensei nisso antes?!

Para quem já está achando o texto longo demais, não desanime, agora vem a parte boa, o "pulo do gato", o que talvez um monte de gente já deva ter pensado, mas esqueceram de exercitar e, o mais importante, me participar da boa-nova.

Para Airton Luiz Mendonça (O Estado de São Paulo) o antídoto contra a aceleração do tempo tem uma sigla, M&M (Mude e Marque) e funcionada da seguinte forma: mude fazendo algo diferente sempre, e marque, com se fosse um ritual de registro, tipo festa, foto ou coisa parecida; Viaje sempre nas férias, preferencialmente, para um lugar quente, um ano, e frio no seguinte e marque com fotos, cartões postais e cartas; Tenha filhos (ou cachorros, gatos...), eles destroem a rotina, e por mais que o nosso tempo pareça passar mais rápido ainda, sob a ótica de duas vidas em uma, temos a sensação de que estamos vivendo mais; Faça festas de noivado, casamento, bodas disso e daquilo, vá a shows, cozinhe uma receita nova, escolha roupas diferentes, tenha amigos diferentes com gostos diferentes, religiões diferentes e que gostem de comidas diferentes; Se você odeia Forró, tente aprender a dança-lo até conseguir, isso vale para lambada, xote, samba, funk ou qualquer outro rítmo que você não goste (isso é importante); Não passe tanto tempo no Facebook, principalmente a noite, pelo tempo que você vem usando o microblog, seu cérebro já o faz automaticamente e aposto que você nem sabe quantos comentários ou fotos curtiu no dia anterior.

Fora a parte cômica do que diz respeito ao tema e aos exageros do método M&M, viver intensamente muitas vezes depende de ações mais simples no nosso dia-a-dia, cada um deve estabelecer suas prioridades com equilíbrio para evitar a ansiedade e as vezes até depressão, agradar-se primeiro para depois os outros e o sistema é um ingrediente importante para o sucesso da receita.
Bom final de semana e aproveite bem o seu tempo.

L.P.

terça-feira, 31 de maio de 2011

O meio-termo da felicidade

Para Luciana Gomes.

Na sexta-feira, quando decidi passar o final de semana em Xerém (novamente) o fiz por três motivos distintos:
1- Estava sem dinheiro, fim de mês atrai bolso vazio, é a lógica proletária;
2- Estava morrendo de saudade da minha família, principalmente do meu sobrinho;
3- Estava frio e chovendo e eu adoro o frio úmido da serra.
Se o tédio não se intrometesse, eu ficaria na boa, certamente o final de semana seria maravilhoso, era só eu mantê-lo longe que aproveitaria o ócio e o ar fresco pra produzir boas idéias. Então, enfiei umas revistas e dois livros na mochila, coloquei também um short de dormir, uma camiseta branca, remédio de nariz (frio é bom, mas nem tanto) e parti na tarde de sábado feliz da vida.

Essas viagens de ônibus dão tempo de você fazer um monte de coisas entre os pontos de partida e de chegada. Algo que possa ser manipulado no espaço entre o tórax e o encosto da poltrona da frente, ou seja, ler. Livros, jornais, revistas, nada de fazer as unhas, descolorir os pelos ou arriscar uma cantoria. Colocar a leitura em dia é, e sempre será, a melhor opção nesses casos.

De dentro da mochila, entre as últimas edições da revista Veja e dois livros - O Mundo de Sofia (romance da historia da filosofia) e O Pessimismo e Suas Vontades -, ambos de filosofia, tirei o segundo e resolvi reler uns trechos do trabalho do alemão Arthur Schopenhauer e logo fui tragado para dentro das páginas pelo fluxo “hemorrágico” das suas idéias e absorvido por uma força que fez o tempo passar rápido, empurrando a luz do sol para baixo das rodas e pintando com as cores da noite a janela atrás da cortina. Esforcei-me para não reler Marx e Darwin no primeiro livro para dar uma atenção a outro queridíssimo filósofo e suas magníficas teorias.

Sendo raso mesmo quando Schopenhauer merece profundidade, vou falar rapidinho do que mais intriga na sua maneira de pensar, a vontade. Segundo ele, a vontade torna o homem miserável porque faz do desejo a sua força vital. Ele vive porque deseja conquistar algo, trabalha porque tem necessidades, casa-se porque precisa se relacionar e depois que realiza todos os seus desejos, volta à posição de miserável (lê-se necessitado) e logo busca outra razão para continuar vivendo. Então muda de trabalho, troca de carro, de mulher (marido), vende a casa que lutou tanto pra conseguir e faz qualquer coisa que possa libertá-lo do fracasso de simplesmente viver tranquilamente. Inspira-se na sociedade louca e consumista e motiva-se pelo querer, que geralmente nasce do interesse pela vida do outro.
Cansativo demais, eu concordo, mas fazemos isso o tempo todo sem perceber e colocamos a felicidade exatamente no final desse desejo, onde começa a realização, mas também, onde começa a contagem regressiva para uma nova necessidade e o início de uma nova epopéia sem fim.

Meu final de semana interio se resumiu a isso. Lembrei-me que quando estava bem de grana não passei por nenhum período depressivo, e que agora, do dia 1º ao 5º dia útil de todo mês, para cada conta, um Diazepan de 10mg. Já comprei toda a felicidade que pude, calças, camisas, sapatos, férias na Europa. Construí uma casa, fui plenamente satisfeito. Agora desejo um monte de coisas novas que não posso ter por enquanto e já me sinto mal. Será que eu quis pouco e trabalhei demais e agora apresento cansaço? Será que se eu quiser menos e trabalhar o equivalente terei mais qualidade de vida e serei mais feliz? Em que ponto a felicidade pode ser saudável se no momento em que ela se torna plena colocamos tudo a perder?
Será que precisamos desejar menos para vivermos mais e estancar essa sucessão de vontades e satisfações que nos empurram para o vazio a todo tempo? O pêndulo entre a necessidade e a satisfação deve oscilar menos entre os extremos, quase parando, para que o sofrimento por não ter o que se deseja não produza tanta gente emocionalmente instável, antiética e imoral. O homem do SER deve ser maior que o homem do TER, esse é o caminho da verdadeira felicidade e já está dentro de nós.

Antes de voltar pra casa ainda ouvi da minha mãe que eu estava muito anti-social no final de semana. Não dá pra pensar e refletir tanto e ao mesmo tempo alimentar tartarugas, dar banho no cachorro e “plantar bananeira” pra fazer meu sobrinho sorrir. Uma coisa de cada vez, neste final de semana foi preciso relativizar a felicidade para eu começar a viver melhor.

L.P.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

A sexta-feira e as leis básicas do humor.

Para Leo Batista.

Compartilho da opinião de alguns médicos que o bom humor é melhor que muito remédio e mais eficiente que psicoterapia no tratamento e cura de muitas doenças. Bom humor com inteligência é melhor ainda, pois além de curar um dia chato e dor de barriga serve para absolver aquele amigo pentelho que vive mandando e-mails engraçadinhos com piadas e afins que só ele acha graça*. Então, acrescente o ingrediente sexta-feira - dia internacional da piada - nessa receita e sua caixa de e-mails transbordará de tentativas para te fazer rir.
99% dessas tentativas não vão funcionam se você for como eu, que não acha graça no óbvio, nas respostas previsíveis e sempre espera que alguém te surpreenda. Entretanto, ainda existe 1% de probabilidade que pode dar certo e foi exatamente uma dessas que veio parar na minha caixa de e-mail hoje de manhã.
Reparem como existe uma relação próxima com a ciência e a filosofia. rsrs

* Se depois dessa você achar que não valeu a pena ter sido direcionado ao C-XY e que sou fruto da minha própria crítica, segue o telefone do SAC 9410-333..., falar com Leo Batista.


1- LEIS DA ATRAÇÃO 
(COISAS QUE SE ATRAEM SEM ESFORÇO NENHUM):
 
Olho e bunda;
Pobre e funk;
Mulher e vitrine;
Homem e cerveja;
Chifre e dupla sertaneja;
Carro de bêbado e poste;
Tampa de caneta e orelha;
Tornozelo e pedal de bicicleta;
Leite fervendo e fogão limpinho;
Político e dinheiro público;
Dedinho do pé e ponta de móveis;
Camisa branca e molho de tomate;
Tampa de creme dental e ralo de pia;
Café preto e toalha branca na mesa;
Dezembro na Globo e Roberto Carlos;
Segundas-feiras e sono;
Terças-feiras e sono;
Quartas-feiras e sono;
Quintas-feiras e sono;
Sextas-feiras e cervejaaaa;
Chuva e carro trancado com a chave dentro;
Dor de barriga e final de rolo de papel higiênico;
Bebedeira e mulher feia;  

2- LEIS BÁSICAS DA CIÊNCIA MODERNA: 
· Se mexer, pertence à Biologia. 
· Se feder, pertence à Química. 
· Se não funciona, pertence à Física. 
· Se ninguém entende, é Matemática. 
· Se não faz sentido, é Economia ou Psicologia. 
· Se mexer, feder, não funcionar, ninguém entender e não fizer sentido, é INFORMÁTICA.

3- LEI DA PROCURA INDIRETA:   
· O modo mais rápido de encontrar uma coisa é procurar outra. 
· Você sempre encontra aquilo que não está procurando.

4- LEI DA TELEFONIA:   
· Quando te ligam: se você tem caneta, não tem papel. Se tiver papel, não tem caneta.
Se tiver ambos, ninguém liga. 
· Quando você liga para números errados de telefone, eles nunca estão ocupados. 
· Parágrafo único: Todo corpo mergulhado numa banheira ou debaixo do chuveiro faz tocar o telefone.

5- LEI DAS UNIDADES DE MEDIDA:   
· Se estiver escrito 'Tamanho Único', é porque não serve em ninguém, muito menos em você.

6- LEI DA GRAVIDADE:   
· Se você consegue manter a cabeça enquanto à sua volta todos estão perdendo, provavelmente você não está entendendo a gravidade da situação.

7- LEI DOS CURSOS, PROVAS E AFINS:   
· 80% da prova final será baseada na única aula a que você não compareceu e os outros 20% será baseada no único livro que você não leu.

8- LEI DA QUEDA:   
· Qualquer esforço para agarrar um objeto em queda provoca mais destruição do que se o deixássemos cair naturalmente. 
· A probabilidade de o pão cair com o lado da manteiga virado para baixo é proporcional ao valor do carpete.

9- LEI DAS FILAS E DOS ENGARRAFAMENTOS:   
· A fila do lado sempre anda mais rápido.
· Parágrafo único: Não adianta mudar de fila. A outra é sempre mais rápida.


10- LEI DA RELATIVIDADE DOCUMENTADA:
 
· Nada é tão fácil quanto parece, nem tão difícil quanto a explicação do manual.


11- LEI DO ESPARADRAPO: 
 
· Existem dois tipos de esparadrapo: o que não gruda e o que não sai.
 

12- LEI DA VIDA:  
· Uma pessoa saudável é aquela que não foi suficientemente examinada.
· Tudo que é bom na vida é ilegal, imoral, engorda ou engravida.

13- LEI DA ATRAÇÃO DE PARTÍCULAS:
· Toda partícula que voa sempre encontra um olho aberto.


L.P. 

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Valor inestimável, inorgânico e mineral.

Para Vinicius Duarte e Daniel Vasconcelos.

Depois de 1 ano desde a minha primeira viagem à Europa eu não parava para arrumar as minhas coisas e organizar meu guarda-roupas. Diariamente, eu só movo coisas de um lado para outro sem me dar conta do que são. Coisas que fui acumulando ao longo dos anos e que nem faço idéia da existência.
Bem, na verdade esse é o final da história, porque ela começa de outra forma.

Semana passada, recebi um amigo para jantar e começamos a falar apaixonadamente sobre a vida e as experiências carimbadas em um passaporte. Foi uma viagem e tanto quando percebemos que naquele universo de dois homens e uma sala vazia, as lembranças haviam decorado o espaço, as paredes e onde sobrava lugar com ornamentos quase palpáveis das nossas histórias. As palavras tinham uma aura dourada e o perfume daqueles dias e noites longe de casa. Os olhos brilhavam como se aquilo tivesse acabado de acontecer, mas a surpresa de fato só viria horas depois.
Não me impressionou que o tema tivesse rendido tanto assunto, o Daniel é um rapaz simpático, super inteligente e cheio de preciosidades a acrecentar e isso funcionou como combustível para as minhas memórias. Falamos tanto, que a partir de um determinado momento, mais que palavras, só os livros poderiam dizer algo mais. Maravilhas ilustradas adquiridas durante as férias e com valores inestimáveis que superam em importância qualquer outra bugiganga fruto do freeshop que pudesse ter pesado na minha mala.
De repente me lembrei de uma coisa que na época da viagem não fez muito sentido, e que só agora se justificava.

Abre parenteses...

Quando estive em Versailles, Paris, tive uma surpresa maior que a Torre Eiffel no palácio do rei Luiz XV e sua "descabeçada" nora Maria Antonieta. Um monumento em forma de casa com aposentos suntuosos e jardins luxuriantes de odor inigualável, uma expécie de relva e sumo de talos de vegetais, bem acentuados para o olfato de um alérgico. Fiquei tão encantado com tudo, principalmente a história, que mesmo 4 horas depois, quando enfim deixei o lugar, não resisti e joguei um punhado de pedras miúdas do pátio principal dentro da minha sacola, junto com uns livros que eu tinha comprado. Aquilo não fez muito sentido na hora, mas era uma forma de voltar pra casa com algo que realmente tivesse pertencido a história. Materia inorgânica, resistente ao tempo e ao esquecimento.


Dias depois, Paris ficou para trás junto com o frio da primavera europeia, e eu estava, novamente, diante de um novo monumento, esse muito maior que qualquer obra de Antony Gaudi, Miró ou Picasso juntos. O Mar Mediterrâneo e a cidade de Barcelona.
Eu fiquei extremamante agradecido a Deus e aos santos de A a Z pela oportunidade de pisar em águas "não atlânticas" e ponto de partida para a viagem que deu a luz às Américas de Colombo. Da mesma forma que aconteceu em Versailles, antes de sair da praia, eu também apanhei um monte de pedras e joguei no fundo da mochila.
Atravessei o Atlântico de volta pra casa e essas pedras rolaram por um ano esquecidas entre roupas amarrotadas até semana passada.


Fecha parenteses...

Quando o nosso assunto beirava a exaustão e o Daniel parecia cansado de me ouvir falar, me lembrei de uma daquelas coisas que eu movia de um lado para o outro sem me dar conta do conteúdo e fui até o armário pegar. No fundo de um pote de vidro envolvido por PVC, as pedras miúdas do Palácio Francês pareciam de plástico e as pedras maiores e arredondadas da praia de Barcelona me lembraram morangos cinzas, pela textura e formato. As lembranças me tomaram como uma agressão e até me assustei com a quantidade de coisas que surgiram de meses antes da viagem, dos sentimentos que experimentei a cada novo passo em direção a realização do meu sonho. Cada coisa mínima, cada pedrinha tinha uma relevância, uma possibilidade, uma participação na história daquele povo e agora estava comigo, misturada às roupas, trancadas, movidas e impregnadas com o meu perfume. Trouxe ao meu quarto, para o meu mundo, o cheiro do mediterrâneo, o sotaque catalão, a madeira podre das embarcações romanas, as gargalhadas das festas em Versailles e o trote dos cavalos dos soldados de Napoleão e a Revolução Francesa. Séculos de história e milênios de existência cruzaram o mar comigo e hoje me ajudam a perceber que nenhuma foto ou bem material que registre uma boa experiência pode ter valor maior que um ícone só meu que confirme no futuro que aquilo tudo não foi um sonho e que de fato aconteceu. Que um monte de pedrinhas pode significar nada para uns, mas para outros ter valor inestimável.

L.P.