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Este blog não pretende ser correto, fonte de pesquisa ou referência para seus interessados. Ele foi pensado para que outros homens e mulheres entendam melhor como nós (homens) podemos ser românticos, chatos e invariavelmente humanos. O que pensamos das artes, das coisas que não entendemos e principalmente de nós mesmos. Neste blog há espaço para homens de todas as idades, raças, classes sociais e orientação sexual. É feito de pensamentos livres, sem dogmas culturais ou religiosos.


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quinta-feira, 12 de abril de 2012

Escolhas e Sentenças.

Para Claudio Cunha, Tony Lopes e Dill.

As vezes a perplexidade nos torna imóvel diante de um fato. O que fazer depois disso, eis a questão. Banalizar talvez seja mais fácil, você deixa passar acreditando que não tem jeito e segue a vida. Se a opção for refletir, isso pode dar mais trabalho, porque toda reflexão é digna de uma conclusão, e para valer o tempo dedicado a todo o processo é preciso agir. Por outro lado a ignorância é uma dádiva, quanto menos sabemos sobre algo, mais distante da indignação e do recalque. Você simplesmente aceita e acredita que era o "plano de Deus" reservado para você, mas quem vai nos convencer que o plano de Deus era nos ferrar e nos ver derrotados? Não existe “plano de Deus” para derrotar ninguém, o que existe são as escolhas que esquecemos que fizemos e as parcelas fixas que pagamos por elas pelo resto da vida. Deus é benevolência para quem acredita nele.

Eu e um amigo resolvemos assistir Heleno, filme dirigido por J. Henrique Fonseca, produzido e muito bem estrelado por Rodrigo Santoro. A narrativa não é das mais dinâmicas e a introdução se arrasta um pouco até arrancar, mas do meio para o final a gente até esquece como o filme começou porque somos arrebatados pela perplexidade. Não importa se a produção é ou não biográfica, o que importa é a discussão sobre o comportamento de um mito que esqueceu que era gente.

Naquela sala 60% ocupada, vários Helenos olhavam para a tela sem se reconhecerem. Homens e mulheres que não fazem ideia de que cada cobrança da vida paga com sangue foi uma escolha errada no passado. As vezes pecamos sem noção e pagamos o preço sem sentir. As vezes percebemos o erro, mas não voltamos atrás e deixamos a poeira e a escuridão do passado encobrir o mal feito e lá na frente nunca sabemos como lidar com o resultado. Tudo tão antigo e "autoperdoado" que já não faz mais diferença. Muitas vezes temos menos de 48 horas para voltar atrás de uma decisão ou de um mal feito porque depois disso nos perdoamos a até romantizamos o erro. Repeti-lo e banalizá-lo depois é tipicamente humano, mas até para ser mal caráter precisamos ter noção do mal de que somos capazes de fazer para orgulho e próprio perdão.

Heleno de Freitas foi um craque dito genial, destemperado, doente e imaturo. Teve oportunidade de fazer diferente, mas a arrogância não lhe permitiu enxergar sua condição humana que pouco a pouco tornou-o frágil e tirou-lhe a única coisa que não era devida, sua glória. Muita gente diz que não temos como controlar os eventos do destino, mas acredito que podemos organizar nossas vidas para que esses eventos funcionem ao nosso favor. Vejo muita gente de bem e competente que consegue quase total controle sobre o incontrolável porque estão atentas e dispostas em cada escolha. Porque respeitam a integridade alheia e por conseqüência a própria integridade. O mínimo se reflete no máximo. É como escolher o sapato errado, estragar o look e ficar a festa inteira se penitenciando por isso. As outras pessoas podem não perceber, mas você sabe e isso já é suficiente.

Ainda hoje eu me cobro sobre algumas escolhas que fiz e pago minha sentença sem culpar Deus ou meus pais por minha imaturidade. Tenho certeza que, seja o mito Heleno ou um mortal como eu e você, todos nós atingimos o discernimento em algum momento e mesmo no silêncio dos nossos pensamentos nos declaramos culpados, porque se a culpa nasceu de uma péssima escolha então não tem porque atribuir a Deus ou a terceiros a merda que escolhemos para nós.
Se não tiver conserto, engula o choro e aguente firme!

Até a próxima.
L.P.