Bem-vindo ao Cromossomo XY

Este blog não pretende ser correto, fonte de pesquisa ou referência para seus interessados. Ele foi pensado para que outros homens e mulheres entendam melhor como nós (homens) podemos ser românticos, chatos e invariavelmente humanos. O que pensamos das artes, das coisas que não entendemos e principalmente de nós mesmos. Neste blog há espaço para homens de todas as idades, raças, classes sociais e orientação sexual. É feito de pensamentos livres, sem dogmas culturais ou religiosos.


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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A Minha Versão do Amor.

É fato, quanto mais me afasto da adolescência e daqueles tempos de ebulição hormonal, mais próximo da verdade e da minha própria versão dos romances eu fico. Quem me acompanha no blog deve estar se perguntando por que eu volto tanto a este assunto. A minha resposta é a seguinte: Enquanto eu não entender esse mecanismo perturbador da química do amor eu não vou parar de refletir a respeito (ou até que alguém me ajude a entendê-lo), porque já perguntei a um monte de gente competente e de sucesso no negócio sobre estes mecanismos e as respostas mais próximas do esperado tinham a ver com dogma, mitologia ou redenção total, e isso não me interessa.

O sentimento pode até ser imprevisível, mas o homem ...

Das coisas típicas do amor:

Todas as vezes que a “coisa” aconteceu, a carência era mais nítida do que a afinidade e a admiração. Tinha sempre alguém na merda e alguém a fim de comer gente. As frestas que se permitia ver além da cortina eram estreitas e mal iluminadas e a “coisa” toda acontecia como um milagre. Esqueçam do amor incondicional, o tal amor a primeira vista e outros amores imortalizados no cinema. Estou falando de vida real.
O amor, como o chamam, em minha opinião, é um amontoado de coisas confusas a meia-luz, sob uma camada espessa de conformismo, dependência, vista grossa e amizade, que por falta de outro nome, chamamos de amor. A coisa é tão louca que antes de nos declararmos nunca sabemos o que estamos sentindo. É uma mistura de cama boa, com ótima companhia e bom comportamento ético, mas isso nem sempre vem acompanhado de estabilidade econômica e impecável relação familiar, quesitos importantíssimos nos dias atuais. Aceitação e equilíbrio psicológico então... é pedir demais. Fica sempre uma coisa pela outra. Falta aqui, repõe dali, e no calor da crise de 1 ano nos perguntamos: “É isso mesmo que eu quero?!”. Conheço casais que estão juntos e nem sabem por quê. Conheço casais que se pudessem se matavam uma vez por semana para satisfazer a gana de ver o cônjuge calado um dia todo.

O amor nasce do drama: 

Acredito que o amor para se estruturar e se instaurar dependa de um grande drama na vida. Algo que gere gratidão, admiração ou até dívida mesmo, porque se o tal amor nasce de uma confusão de sentidos, quanto mais estranho o sentimento melhor. Morre o pai de um, o outro perde o emprego, alguém quebra a perna, um carro é roubado, a mãe surta. Se alguma coisa acontece e um ombro aparece, se não for amigo, vira amor! É estranho mesmo, mas se de um lado tem alguém que precisa, do outro terá sempre alguém disposto a ajudar, e se acabar em cama, vira namoro. Não é amor, mas tem gente que prefere chamar assim. Ainda falando do bom “ombro amigo”, aqui vai uma dica importante: Nunca ofereça um copo d’água a alguém que está sofrendo por amor, ombro então, jamais. Nessa de consolar Maria, João só descobriu que o amor não deu certo porque ele não era o Huguinho,  o Zézinho ou o Luizinho. Nesses casos deixa o ombro para o amigo gay.

Desprezo: o mapa do amor.

O próximo passo é a posse. Uma TV de LED só tem valor se tiver na parede da nossa casa. Se a mesma TV estiver na calçada sem dono, ela pode estar novinha, recém saída da loja, que ninguém vai se aventurar em leva-la para casa para testar. O objeto de amor e desejo de qualquer um não quer ser visto como uma televisão nova na calçada, mas se alguém a mantém na parede, sem uso, rola confusão. Todo ser humano, rico ou pobre, feio ou bonito precisa ser valorizado, até aqueles que odeiam bajulação amam ser bajulados, porque isso agrega valor ao produto. Como vou saber se ainda sirvo se ninguém senta diante de mim na sala, mas se eu for para a calçada ninguém vai me levar para casa, pode até pegar, mas vai deixar na calçada mesmo (rs).  É melhor eu brigar com quem me comprou do que deixar espaço para outra entrar. É mais ou menos assim que acontece nas relações. Despreze, e tará amor.
Se eu estiver errado, deixe um recado pra mim que prometo refletir.

Reinvenção do amor:

Minha versão para o amor não é aversão ao amor, é uma reinvenção dele mesmo porque vai mais longe. Antes eu ficava de olho nas entrelinhas, nos atrasos, nas frases incompletas, no celular no vibra call e na quantidade de vezes que o MSN apitava comigo no outro lado do telefone. Eu era um chato no quesito confiança, (putz, como vocês me agüentaram?). Imaginar uma sexta-feira sem mim, bordejos no calçadão, praia com a galera, chope fora de hora, compromissos estranhos, tias estranhas e até concursos públicos fora da cidade era papo de revolução e fim de caso. Com a popularização do Facebook e o advento do Grindr (Deus me livre!) decidi que antes de pirar eu vou me reeducar, ser mais relax, acreditar que o amor perfeito deve ser também um pouco cego e um pouquinho submisso para durar além do outono / inverno. Resistir ao verão e passar sem arranhões pelo carnaval e as férias alheias.

Minha versão pode ser estranha e muito mais confusa que o próprio amor, mas ela é acima de tudo real. Quando eu era garoto eu me apaixonava a cada 15 dias e sofria muito no final do ciclo porque não praticava a realidade. Hoje penso em outras coisas, outros pormenores que fazem desse amor menos fabuloso, onde os alfinetes, remendos e grampos aparecem sem fragilizar ou mesmo desvalorizar o produto. Todo amor é frágil por natureza, o que faz dele uma fortaleza é o quanto de empenho os envolvidos dedicam para guardá-lo e protegê-lo, respeitando as diferenças sem perder o carinho e a boa vontade. 

Falastrices e brincadeiras a parte, minha versão do amor é a minha reinvenção dele mesmo.