Bem-vindo ao Cromossomo XY

Este blog não pretende ser correto, fonte de pesquisa ou referência para seus interessados. Ele foi pensado para que outros homens e mulheres entendam melhor como nós (homens) podemos ser românticos, chatos e invariavelmente humanos. O que pensamos das artes, das coisas que não entendemos e principalmente de nós mesmos. Neste blog há espaço para homens de todas as idades, raças, classes sociais e orientação sexual. É feito de pensamentos livres, sem dogmas culturais ou religiosos.


Seja bem-vindo ao Cromossomo XY.



terça-feira, 20 de novembro de 2012

Liberdade. Eu me chamo solidão.


Uma das coisas que mais gosto de fazer na vida é pedalar. Sentir o vento no rosto, o suor escorrendo nas costas, a tensão nos músculos, tudo isso me enche de vida e amplia minha sensação de liberdade, não só a liberdade de fazer o que quero, mas aquela do desprendimento do corpo, aquela que faz os pássaros mergulharem no céu em voos rasantes sem motivos.

Num traçado magnífico entre a Marina da Glória e o Aterro do Flamengo, desde a enseada de Botafogo e a orla de Copacabana até Ipanema e Leblon, fiz a corrente da minha bicicleta ranger entre a coroa e os peões mais de um milhão de vezes. Em escaladas vigorosas no pedal me lancei rumo a uma direção onde só à liberdade me guiava, eu só sabia onde queria chegar e para onde precisava voltar no final. Meu caminho e a mesma liberdade que rege o vento; O mar, sempre generoso, que serve de margem ao meu traço imaginário; Sob o sol e o olhar perdido de milhares de testemunhas desfrutei da beleza das ruas coloridas de etnias. Todas estas coisas me ajudaram a perceber que a liberdade é quase 50% constituída de solidão. Uma é condição da existência da outra, sem exceção a regra.

Gente por toda parte com saudade do sol que deixou a cidade cinza quase cinco dias. Uma multidão que caminhava desordenada por todos os lados. As janelas, nos edifícios da orla, salpicadas de vultos solitários e muita gente acompanhada de ninguém. Tudo isso me fez pensar naqueles quase 15% da população residente no Rio feita de migrantes que vieram para cá nos últimos cinco anos, e principalmente, no motivo que as fizeram mudar tão radicalmente suas vidas.

Abandonar a família, lugares e a própria história, elementos que compõem nosso DNA, nos fragiliza e nos torna alvo fácil da saudade. É um ciclo vicioso. A saudade nos faz usar mal a liberdade, optar pelo excesso de atividades, vícios e administrar mal nosso dinheiro. Depois nos aprisiona e revela a outra face de ser livre, a extrema solidão. É o cachorro atrás do rabo, você decide ser livre e acaba preso a um sistema que você mesmo criou. Ao longo da vida percebi que muitos grupos são formados por pessoas sem familiares por perto numa corrente antissolidão, como se fosse um antídoto, uma espécie de amor sintético, algo que sirva como família mesmo que não possam chamá-los assim. Passam sua existência de grupo em grupo como um nômade de sentimentos, absorvem o que precisam e saem. Claro que este caso está cheio de exceções! Outras pessoas resolvem bem esta falta exatamente porque gozam de amor genuíno estando constantemente entre os seus e o resultado é mais segurança, menos exposição e saúde abundante. Até na vida profissional, quem tem família por perto tende a ter mais sucesso.

Voltando a liberdade, seja qual for o motivo que nos leva a buscá-la - seja para sair do armário (ou entrar nele), ser hippie, estranho ou excêntrico - a solidão certamente estará no meio do caminho e em algum momento esbarraremos com ela. Algumas pessoas encaram muito bem esta condição, outras piram, adoecem e acabam voltando para casa piores que quando saíram. Amargos e derrotados. O que nunca devemos esquecer é que muita liberdade aprisiona. Seja o que for que te faça buscá-la use como guia os seus valores e jamais rompa com a sua origem. Muitos erros são por ocorrência da solidão e pela vã irresponsabilidade do nosso Sistema de Recompensa que nos permite a toda hora errar mais um pouquinho de tanto que merecemos "escapismos" até não enxergarmos a luz que ilumina a liberdade verdadeira.

L.P.

“A maior ironia da solidão é que nós nunca estamos sozinhos no que sentimos”.