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Este blog não pretende ser correto, fonte de pesquisa ou referência para seus interessados. Ele foi pensado para que outros homens e mulheres entendam melhor como nós (homens) podemos ser românticos, chatos e invariavelmente humanos. O que pensamos das artes, das coisas que não entendemos e principalmente de nós mesmos. Neste blog há espaço para homens de todas as idades, raças, classes sociais e orientação sexual. É feito de pensamentos livres, sem dogmas culturais ou religiosos.


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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Solidão que nada!

Para Sidnei Santiago, Lidia e Paulinha Paiva.

O final de semana passou e com ele a ansiedade de que algo não seria bom em 12 de junho. As vezes esquecemos que ter amigos é a melhor coisa do mundo depois da família. É ter a deliciosa sensação de que tudo está devidamente apoiado e que nunca estamos sozinhos. E por falar em solidão, esse foi o tema da minha última postagem no C.XY, e pelo que tenho lido sobre o tema e de acordo com a psicanálise, esse é um dos maiores desafios da humanidade, pois não escolhe sexo e idade e devasta vidas mundo a fora.

Geralmente a solidão nunca vem sozinha. Está ligada a insegurança, a dificuldade de se socializar e (ou) a algum trauma vivido. É fato, e se não me engano já falei sobre isso aqui mesmo no blog, que nós não fomos programados geneticamente nem culturalmente para vivermos sozinhos, temos uma necessidade biológica de viver em grupo. Produzimos melhor quando trocamos com alguém, precisamos da aprovação dos parceiros quando fazemos algo novo, alguém que diga que algo está irretocável, bem feito ou bem dito, e mesmo que não esteja, até para aqueles difíceis de aceitar opinião, quando refazemos, nos saímos muito melhor.
Isso tem a ver com a insegurança e a auto-afirmação, mas muito mais com a aceitação do grupo (ou par), a admiração alheia e a sensação de pertencimento.

Quando disse acima que alguns fatores colaboram com esse sentimento aterrador, fiz por conhecimento de causa. Por algum tempo, mesmo cercado por uma família maravilhosa e amigos especiais, me senti muito sozinho por causa do fim de um relacionamento muito importante, todos sabiam o quanto havia sido ruim para mim, mas querendo ou não, aquele sentimento era a coisa mais importante e mais bonita que tinha me acontecido e a perda da pessoa amada me deixou com um volume de sentimentos que eu traduzia como amor e que agora não tinha pra quem doar, e mesmo se tivesse o formato não seria o mesmo e apodreceria dentro do peito de qualquer maneira. O vazio e a solidão me empurraram ladeira abaixo e tive que aprender a conviver, foi muito difícil, mas foi também uma escola. Eu estava cercado de pessoas e ao mesmo tempo sozinho, triste e vazio, nada era de fato importante ou incrível ao ponto de atrair minha atenção ou ter algum valor significativo. Nada me tirava da escuridão e do isolamento. O tempo passou e hoje parece que não aconteceu, a experiência existiu e deixou cicatrizes indeléveis na alma, mas foi como numa escola de agentes do BOPE. A experiência criou uma camada espessa na couraça que eu achei até que jamais me sensibilizaria novamente, mas ao invés disso, me ensinou a ser mais firme e valorizar cada coisa de maneira independente, trouxe mais sensibilidade, segurança e a garantia de uma vida melhor. Estabilizou-me emocionalmente (pelo menos eu me sinto assim!). Dessa lição, aprendi que existe a hora de ficar sozinho mesmo, de digerir o aprendizado e transformar todo e qualquer volume de sentimento apodrecido em amor próprio.

A solidão é algo tão silencioso que as vezes chega de mancinho e se instala mesmo quando a companhia parece ser a melhor. Muita gente procura fazer parte de grupos ao qual nunca pertenceu e nunca pertencerá porque jamais haverá química entre os seus, ela é fundamental. Dividir ideais, opiniões e paixões faz com que as pessoas se unam e se completem e assim produzam muito mais movimento e coisas das quais se orgulharem e isso gerará ainda mais benefícios a esse grupo. O contrário disso é a reclusão. Você está onde não deveria, gastando uma energia vital fundamental e cada vez mais perto do exílio. Não adianta admirar se você não tem atributos que fundamentem a relação, e o resultado é a sensação de estar sozinho a dois ou num grupo.

Cada vez mais pessoas procuram por psicoterapia e terapias de ocupação para afastarem a solidão, mas uma coisa que elas se esquecem de fazer é procurar saber de onde isso vem, se a causa não for depressão, ou como dizem doença da alma, é somente falta de adaptação ou de um propósito estabelecido. Quem nasceu para plantar flores não vai se adaptar ao um escritório de contabilidade, esse florista inato se sentirá insatisfeito, triste e recluso e o soldo disso tudo é a solidão. No entanto, esse monstro que a gente mesmo cria, não tem nada a ver com a falta de uma doutrina religiosa e convívio social, é fruto de uma mente adoecida ou, no meu caso, falta de diálogo interno. Santo Onofre, que tem seu dia comemorado também em dia 12 de junho, viveu 70 anos sozinho no deserto, mas nunca se sentiu só porque estava bem consigo mesmo, atribuía sua vida de ermitão a um propósito divino. Faltava lhe de tudo, da roupa a comida, mas não lhe faltava um propósito.

Voltando ao assunto, o dia dos namorados passou e não doeu, não doeu como doía antes e por mais que eu esperasse a dor e fizesse piadas com isso, ela não veio e me surpreendeu. Estive bem sozinho, sem franzir a testa, sem ter taquicardia ou mau humor porque estava bem comigo, com meus amigos e feliz com a minha família. Mesmo com o coração desocupado a casa estava limpa e perfumada com as velas acesas para quando o amor resolvesse voltar, e as únicas ferramentas que venho usando para a sua manutenção são o amor próprio, o auto-respeito e um pouquinho de maturidade.
Nos vemos por ai!

L.P.