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Este blog não pretende ser correto, fonte de pesquisa ou referência para seus interessados. Ele foi pensado para que outros homens e mulheres entendam melhor como nós (homens) podemos ser românticos, chatos e invariavelmente humanos. O que pensamos das artes, das coisas que não entendemos e principalmente de nós mesmos. Neste blog há espaço para homens de todas as idades, raças, classes sociais e orientação sexual. É feito de pensamentos livres, sem dogmas culturais ou religiosos.


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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Poesia Versus Tecnologia

O que me inspirou escrever desta vez não foi o amor, apesar de ser movido por essa força em tempo integral, mas a saudade, a certeza que um dia não teremos mais referencia da nossa infância, adolescência e dos tempos antigos que contam e nos ensinam com suas tantas histórias maravilhosas. Não me refiro ao desaparecimento dos registros daquela época, graças à tecnologia eles estão cada vez mais limpos e acessíveis, mas a produção de experiências de maior valor qualitativo em menos quantidade. O que me inspirou escrever este texto foi a espantosa rapidez com que uma curiosidade pode ser satisfeita em três passos simples: 1º - Shazan (aplicativo para smartphones que reconhece qualquer música e retorna todas as informações sobre ela), 2º - Google (este dispensa apresentações), 3º  - Youtube (além de dispensar apresentações é uma das maiores invenções dos tempos modernos).

Tudo começou com o meu insistente interesse por uma música de um filme em cartaz no Telecine. Aquela melodia estava intermitente na minha cabeça a mais de uma semana, até que resolvi aplicar os três passos acima e me deparar com uma performance de Elvis Presley, ao vivo, em 1970, de Sweet Caroline. Além do próprio Neil Diamond, seu autor e interprete. Tão lindo ver aquilo que uma coisa foi me levando a outra e acabei dormindo as 3h da manhã extasiado e  muito emocionado.  Neste caso a tecnologia me ajudou a ter acesso à poesia, mas, e quanto às próximas poesias desta categoria? Quem terá tempo de criá-las com tanta pressa de produzir novidades para girar o capitalismo e alimentar a ambição? Concordo que os avanços tecnológicos são importantíssimos para o progresso nos tratamentos de doenças graves, para gerar lucro, possibilitar novas descobertas além de promover qualidade de vida para o cidadão comum, mas a tecnologia nos viciou em soluções rápidas, acesso rápido à informação e a substituir com a mesma rapidez nossos encantos e nos tornar monstros de carência sedentos por novidade e movimento. Estamos mais conectados a cada dia através da rede e menos conectados fisicamente uns com os outros. Consumimos tudo com muita voracidade e temos cada vez menos tempo e interesse no indivíduo (não vou falar de amor e sexo agora).

Com os avanços tecnológicos a população comum não “descobre” mais nada, apenas acessa o pioneiro, e eu acredito que de alguma forma isso interfira na descoberta de novos artistas que deveriam suprir de poesia os novos tempos. Há tanta pressa em se criar ídolos para fazer dinheiro que não sobra tempo de achar artistas genuínos. Se a paixão move a arte, a insistência é a responsável pela excelência dos resultados dela. Se esses artistas não tiverem tempo de transpirar essa paixão, ela deixa de ser uma força motivadora e se torna uma máquina de frustração porque o tempo é fundamental para a maturação das “idéias” e haja tecnologia ou não este processo é do homem, não tem como acelerar. Quanto a isso não existe ciência que dê jeito (espero!), o homem é fruto da convivência e a ciência e a tecnologia só deveriam melhorar isso, não nos afastar um do outro.

A tecnologia viabiliza tudo que a ciência leva décadas para descobrir, cria mecanismos curiosos e simples para tonar processos intrincados em cultura pop - smartphones, tablets, computadores, monitores de glicemia, aparelhos de Ultrasom 4D do tamanho de celulares, etc –, mas está alheia a poesia, ao romantismo, a arte genuína e ao olhar diferenciado. A tecnologia não bloqueia o processo criativo, muito pelo contrário, possibilitam novas ferramentas para se alcançar resultados, mas nos viciou em velocidade e urgência nestes processos, que para determinadas realizações, só faz atrapalhar.

Haverá um tempo sem equivalentes para Elvis, Machados de Assis, João Ubaldo, Calderon de La Barca, Buñuel, Dalí, Garcia Marques, Dickens, Hendrix, Simone de Beauvoir, Vinicius de Morais, Elis Regina, Saura, George Bizet, Beethoven, entre outros tantos gênios que nos presenteou com um legado artístico inacreditavelmente rico e que servem de referência para os nossos contemporâneos. Desejo que o homem acorde a tempo de aproveitar sua vida com as facilidades que a tecnologia promove sem ser um escravo perpétuo dela. Que troque tardes inteiras dedicadas ao Facebook, consoles de games e outros bichos tecnológicos ao ócio criativo, ao mar, ao Parque do Flamengo, à música, à insistente gota d’água nas Paineiras e outros passaportes que expandam a criatividade. Para que a tecnologia não se oponha a existência da poesia e do romantismo, mas seja uma ferramenta para sua divulgação e propagação só depende de nós, da maneira como vemos o mundo e do que esperamos para o nosso futuro em longo prazo.  Desejo que o homem escreva mais, corra menos, exponha suas idéias por mais absurdas que possam parecer para mim ou para 6 milhões de pessoas, mas que alcance o coração devido e seja a gênese de uma linda poesia que nos faça pensar e garanta um sorriso quando tudo parecer plástico e com gosto de comida congelada.

Até a próxima.
L.P.