Bem-vindo ao Cromossomo XY

Este blog não pretende ser correto, fonte de pesquisa ou referência para seus interessados. Ele foi pensado para que outros homens e mulheres entendam melhor como nós (homens) podemos ser românticos, chatos e invariavelmente humanos. O que pensamos das artes, das coisas que não entendemos e principalmente de nós mesmos. Neste blog há espaço para homens de todas as idades, raças, classes sociais e orientação sexual. É feito de pensamentos livres, sem dogmas culturais ou religiosos.


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sexta-feira, 18 de maio de 2012

"Na Boa" ou "De Boa"?


Ultimamente tenho ouvido muita gente falar "de boa" para cá "De Boa" pra lá, mas sinto informar que esta expressão não existe, a maneira correta de ilustrar o que se pretende é "Na Boa". Esta expressão nasceu no Rio de Janeiro entre as décadas de 60 e 70 e exprimia o estado de espírito do carioca, praiano, sempre "relax" nas tardes do posto 9 em Ipanema. A "Boa", neste caso, eram as tardes ensolaradas e tranquilas de praia e para ilustrar que não existia maneira melhor de levar a vida nasceu a expressão "Numa Boa", que depois virou "Na boa" e que hoje dizem "De Boa" (horrível e incabível). Acontece que o Estilo de Vida Carioca virou moda no Brasil e no mundo e, além da beleza da cidade e do povo, nossos maneirismos também viram desejo de domínio e com isso o "Na Boa", entre outras expressões, ganhou outros territórios e novas adaptações. Até aqui tudo bem, o idioma, por ser uma língua viva, vai mudando ao longo das décadas e sofrendo interferências de outras culturas e até dos avanços tecnológicos, mas a contrapartida de tanta mudança é o caráter de patrimônio oral, cultural e imaterial de uma nação, ou região de onde é original, que a língua tem. Por isso mesmo deve ser defendido.

Agora vamos fazer um teste prático para ter certeza que a expressão não foi bem adaptada devido a questões gramaticais. Troque a preposição EM, que exprime ideia de lugar onde se está, mais o numeral UMA (em + uma = NUMA), pela preposição DE, que exprime apenas relação entre palavras, e no final coloque um sentimento qualquer, por exemplo, alegria. Percebeu como não faz sentido e é horrível?!

Não sei quem mudou nossa expressão de “Na Boa” para “De boa”, alguns dizem que ouviram a primeira vez em São Paulo, outros em Brasília e há quem diga que nasceu em algum lugar do Sul, mas o fato é que virou febre em todo Brasil. Como filho do Rio de Janeiro e interessado na perpetuação da minha cultura faço deste texto um manifesto para que os meus conterrâneos, pelo menos, voltem a usá-la como foi originalmente criada. Neste caso não existe o desuso para justificar a mudança do hábito, pois desde que me conheço por gente, e isso já faz tempo, ouço as pessoas dizerem da forma correta, e hoje, até algumas pessoas que falavam corretamente aceitaram a proposta “estrangeira” e já aderiram ao modismo.

Pensei muito se escreveria ou não sobre isso, apesar do incômodo, porque não queria parecer bairrista, mas a vontade que tenho de corrigir as pessoas é tão grande que às vezes sinto minha boca balbuciar involuntariamente a expressão correta.

Na boa, cansei! 

L.P.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Viva a Diferença.

Para Fabricio Pietro, Donna Piedade, Gabriel Bittencourt, Rodrigo Feijó e Ricco Haddad.

Vocês já repararam que o que deveria ser positivo para unir acaba distanciando? Ser parecido, similar, idêntico, acaba transformando tudo em uma maçaroca previsível e, no final, ninguém sabe se a zebra é branca com listras pretas ou o contrário.  Se nos detalhes em que nos identificamos com o outro não conseguimos suportar o comportamento refletido, quando somos muito diferentes a história também acaba não dando muito certo porque não estamos interessados em ceder. Na verdade se doar. Não existe “cristo” algum que seja nossa metade da laranja - ou outra figura de linguagem que nos remeta à alma gêmea - sem oportunidade de se apresentar, escolher suas armas e partir pra dentro. Disponibilidade é um “estado de espírito” que faz com que alguns relacionamentos deem certo. Principalmente aqueles que exigem tempo pra acontecer.  Uma boa diferença faz a descoberta ainda mais excitante. Lidar com o inusitado é muito mais interessante. Ser o “oposto-disposto” é o arranque da conexão.

E por falar em conexões e diferenças, na minha última visita à São Paulo reencontrei alguns amigos do Rio que mudaram de cidade em busca de novas oportunidades. Fiz também novos amigos de todos os cantos do Brasil unidos pela afinidade. A impressão que eu tive diante de tanta novidade foi que todos se recaracterizaram no cosmos paulistano. Por mais indiferente que o indivíduo possa ser a toda diversidade, a megalópole brasileira realça o nosso desejo de pertencer a um universo que dita as novas regras urbanas e que liga o Brasil ao mundo pela contemporaneidade, comportamento social, produção artística, pela vasta oferta de serviços ou simplesmente pela capacidade de fazer dinheiro.
Em determinadas esquinas de São Paulo você não consegue identificar a cidade como brasileira devido a esse portal aberto para o mundo. Poderia ser Madri, Nova York, Sidney ou Buenos Aires. E é exatamente por isso que a cidade atrai pessoas de todos os cantos. Espíritos desbravadores e ambiciosos em busca do sucesso profissional e/ou alguma experiência que nenhuma cidade brasileira seria capaz de oferecer.

Acredito que as diferenças que separam Rio e São Paulo sejam as melhores coisas entre as duas cidades. Tanto a cultura do povo como as características geográficas e climáticas nos fazem perceber que uma cidade como o Rio de Janeiro jamais poderia ser como São Paulo por sua natureza turística. É quase impossível dissociar o Rio de Janeiro do cheiro de bronzeador na pele morena dos corpos sarados na praia de Ipanema para associá-lo aos negócios e a um horizonte de alvenaria espelhada. São Paulo é dinheiro e Rio é qualidade de vida (se não para todos, pelo menos para os mais sortudos).  Dinheiro também é qualidade de vida, mas viver bem é tão bom quanto ter dinheiro e, por isso, o Rio ainda é a opção de muita gente.

Assim como as pessoas nascem para aquilo que elas são, as cidades também têm características e peculiaridades que influenciam a personalidade dos seus cidadãos. Cada indivíduo possui um conjunto de diferenciais que o torna único no meio social. Mas diante de tanta diferença, ainda temos um marcador genético que nos faz pertencer ao território no qual fomos originados. Enquanto nativos, somos células que carregamos o DNA da polis e divulgamos sua estrutura social. Jamais pertenceremos a lugar algum se não formos nascidos nele ou tivermos vivido tempo suficiente para nos identificarmos.  Assim como BH é a cara dos mineiros, Belém não poderia ser em outro lugar senão no Pará. E os cariocas não seriam, por definição, um povo feliz (apesar dos pesares) se não tivessem o aporte do Rio de Janeiro. 

Desde que deixamos de ser nômades e começamos a renovar os recursos de um território, passamos a trocar com ele suas características e pudemos enfim nos classificar e ser reconhecidos pela nossa natureza geográfica. São por estes e outros motivos que a crítica entre os gentílicos se torna um discurso vazio do ponto de vista cultural. Não existe a possibilidade de atuarmos no contexto nacional como iguais porque essa diferença é fundamental para enriquecer nosso país e desenvolver nossa cultura.  

Viva a diferença! 
L.P.