Ultimamente tenho ouvido muita gente falar "de
boa" para cá "De Boa" pra lá, mas sinto informar que esta
expressão não existe, a maneira correta de ilustrar o que se pretende é
"Na Boa". Esta expressão nasceu no Rio de Janeiro entre as décadas de
60 e 70 e exprimia o estado de espírito do carioca, praiano, sempre
"relax" nas tardes do posto 9 em Ipanema. A "Boa", neste
caso, eram as tardes ensolaradas e tranquilas de praia e para ilustrar que não
existia maneira melhor de levar a vida nasceu a expressão "Numa Boa",
que depois virou "Na boa" e que hoje dizem "De Boa"
(horrível e incabível). Acontece que o Estilo de Vida Carioca virou moda no
Brasil e no mundo e, além da beleza da cidade e do povo, nossos maneirismos
também viram desejo de domínio e com isso o "Na Boa", entre outras
expressões, ganhou outros territórios e novas adaptações. Até aqui tudo bem, o
idioma, por ser uma língua viva, vai mudando ao longo das décadas e sofrendo interferências
de outras culturas e até dos avanços tecnológicos, mas a contrapartida de tanta
mudança é o caráter de patrimônio oral, cultural e imaterial de uma nação, ou
região de onde é original, que a língua tem. Por isso mesmo deve ser defendido.
Agora vamos fazer um teste prático para ter certeza que a
expressão não foi bem adaptada devido a questões gramaticais. Troque a
preposição EM, que exprime ideia de lugar onde se está, mais o numeral UMA (em
+ uma = NUMA), pela preposição DE, que exprime apenas relação entre palavras, e
no final coloque um sentimento qualquer, por exemplo, alegria. Percebeu como
não faz sentido e é horrível?!
Não sei quem mudou nossa expressão de “Na Boa” para “De boa”,
alguns dizem que ouviram a primeira vez em São Paulo, outros em Brasília e há quem
diga que nasceu em algum lugar do Sul, mas o fato é que virou febre em todo
Brasil. Como filho do Rio de Janeiro e interessado na perpetuação da minha
cultura faço deste texto um manifesto para que os meus conterrâneos, pelo
menos, voltem a usá-la como foi originalmente criada. Neste caso não existe o
desuso para justificar a mudança do hábito, pois desde que me conheço por
gente, e isso já faz tempo, ouço as pessoas dizerem da forma correta, e hoje, até
algumas pessoas que falavam corretamente aceitaram a proposta “estrangeira” e
já aderiram ao modismo.
Pensei muito se escreveria ou não sobre isso, apesar do
incômodo, porque não queria parecer bairrista, mas a vontade que tenho de
corrigir as pessoas é tão grande que às vezes sinto minha boca balbuciar
involuntariamente a expressão correta.
Na boa, cansei!
L.P.