Vocês já repararam que o que deveria ser positivo para unir
acaba distanciando? Ser parecido, similar, idêntico, acaba transformando tudo
em uma maçaroca previsível e, no final, ninguém sabe se a zebra é branca com
listras pretas ou o contrário. Se nos
detalhes em que nos identificamos com o outro não conseguimos suportar o
comportamento refletido, quando somos muito diferentes a história também acaba
não dando muito certo porque não estamos interessados em ceder. Na verdade se doar.
Não existe “cristo” algum que seja nossa metade da laranja - ou outra figura de
linguagem que nos remeta à alma gêmea - sem oportunidade de se apresentar,
escolher suas armas e partir pra dentro. Disponibilidade é um “estado de
espírito” que faz com que alguns relacionamentos deem certo. Principalmente
aqueles que exigem tempo pra acontecer.
Uma boa diferença faz a descoberta ainda mais excitante. Lidar com o
inusitado é muito mais interessante. Ser o “oposto-disposto” é o arranque da
conexão.
E por falar em conexões e diferenças, na minha última visita
à São Paulo reencontrei alguns amigos do Rio que mudaram de cidade em busca de
novas oportunidades. Fiz também novos amigos de todos os cantos do Brasil
unidos pela afinidade. A impressão que eu tive diante de tanta novidade foi que
todos se recaracterizaram no cosmos paulistano. Por mais indiferente que o
indivíduo possa ser a toda diversidade, a megalópole brasileira realça o nosso
desejo de pertencer a um universo que dita as novas regras urbanas e que liga o Brasil ao mundo pela contemporaneidade, comportamento social, produção
artística, pela vasta oferta de serviços ou simplesmente pela capacidade de
fazer dinheiro.
Em determinadas esquinas de São Paulo você não consegue
identificar a cidade como brasileira devido a esse portal aberto para o mundo.
Poderia ser Madri, Nova York, Sidney ou Buenos Aires. E é exatamente por isso
que a cidade atrai pessoas de todos os cantos. Espíritos desbravadores e
ambiciosos em busca do sucesso profissional e/ou alguma experiência que nenhuma
cidade brasileira seria capaz de oferecer.
Acredito que as diferenças que separam Rio e São Paulo sejam as melhores coisas entre as duas cidades. Tanto a cultura do povo como as características geográficas e climáticas nos fazem perceber que uma cidade como o Rio de Janeiro jamais poderia ser como São Paulo por sua natureza turística. É quase impossível dissociar o Rio de Janeiro do cheiro de bronzeador na pele morena dos corpos sarados na praia de Ipanema para associá-lo aos negócios e a um horizonte de alvenaria espelhada. São Paulo é dinheiro e Rio é qualidade de vida (se não para todos, pelo menos para os mais sortudos). Dinheiro também é qualidade de vida, mas viver bem é tão bom quanto ter dinheiro e, por isso, o Rio ainda é a opção de muita gente.
Assim como as pessoas nascem para aquilo que elas são, as
cidades também têm características e peculiaridades que influenciam a
personalidade dos seus cidadãos. Cada indivíduo possui um conjunto de
diferenciais que o torna único no meio social. Mas diante de tanta diferença,
ainda temos um marcador genético que nos faz pertencer ao território no qual fomos
originados. Enquanto nativos, somos células que carregamos o DNA da polis e
divulgamos sua estrutura social. Jamais pertenceremos a lugar algum se não
formos nascidos nele ou tivermos vivido tempo suficiente para nos
identificarmos. Assim como BH é a cara
dos mineiros, Belém não poderia ser em outro lugar senão no Pará. E os cariocas
não seriam, por definição, um povo feliz (apesar dos pesares) se não tivessem o
aporte do Rio de Janeiro.
Desde que deixamos de ser nômades e começamos a renovar os
recursos de um território, passamos a trocar com ele suas características e
pudemos enfim nos classificar e ser reconhecidos pela nossa natureza
geográfica. São por estes e outros motivos que a crítica entre os gentílicos se
torna um discurso vazio do ponto de vista cultural. Não existe a possibilidade
de atuarmos no contexto nacional como iguais porque essa diferença é
fundamental para enriquecer nosso país e desenvolver nossa cultura.
Viva a diferença!
L.P.
Gostei! Claro, simples e perceptivo!
ResponderExcluirPerfeito!
ResponderExcluirÉ preciso achar o equilírio entre o tédio dos iguais e o caos dos opostos. Se tiver que escolher entre as duas opções, a última parece ser a mais promissora, desde que seja um “oposto-disposto”.