Nesta manhã eu recebi de um amigo um daqueles emails com texto sem autor e discurso raso digno das correntes unanimes. O texto tinha um tom evangelizador com palavras afáveis e ligeiramente vazio de intenção. Falava muito em Deus e de uma certa doutrina religiosa que me pareceu muito mais persuasivo no intuito de angariar fies do que educativo na intenção de indicar caminhos para uma vida melhor. Como do caos e da escuridão nasceu a luz, uma única frase no conteúdo "pop-nonsense" do texto me fez pensar em algo muito importante para a evolução (ou involução) do indivíduo como pessoa. "..lábios que se moldam apenas para criticar afastam os beijos"*.
Antes de prosseguir no raciocínio gostaria de esclarecer que a palavra indivíduo designa um elemento de uma certa espécie, que pode ser um homem, um cão ou um pássaro. A palavra pessoa designa um elemento humano da sociedade civilizada que é diferente do conceito de homem, como o das cavernas, o Neanderthal e de alguns exemplares humanos que conhecemos e que sequer podem ser chamados de pessoas porque sua evolução foi equivocada, como exemplo, Hitler, o assassino de Realengo e outros.
Voltando ao assunto anterior, depois que li o tal e-mail e sai para trabalhar, optei por fazer o trajeto a pé e aproveitar mais vinte minutos para pensar a respeito e entender porque o assunto me chamou tanta atenção. Até que as questões se ordenassem na minha cabeça muitas perguntas ficaram sem respostas e dependeram que algumas gavetas fossem reabertas no consciente, isso demandou tempo e uma extrema vontade de obter respostas, porque revolver sentimentos recalcados resulta em reviver sofrimentos e lembranças merecidamente esquecidas. Apesar de ter me lembrado de muitas coisas que, acredito eu, levarei semanas pra esquecer novamente prometo ir direto ao assunto.
A minha leitura da frase supracitada me levou por um caminho que talvez o autor do texto no e-mail jamais pudesse imaginar quão distante e profundo seria. Quando criticamos alguém devemos ter cuidado para que essa atitude não seja a porta inegável da inveja e da insegurança. Quase que em sua totalidade a crítica tem como base orgulho e egoísmo. Aquele que critica quase sempre deseja mudar os outros segundo suas expectativas. Quando meus gostos, preferências e necessidades estão sempre em primeiro plano, então os outros podem ser vistos como inconvenientes e, por isso, posso me valer da crítica para atingi-los. A crítica, então, pode se tornar uma arma para enfraquecer ou desestabilizar a segurança, ou a autoconfiança alheia. Alguém com um ego frágil e suprimido é mais facilmente influenciável e submisso. Por outras ocasiões a crítica nasce da inveja, ou da sensação de uma baixa auto-estima. EMOÇÕES E DEFICIÊNCIAS QUE NÃO ACEITAMOS EM NÓS MESMOS SÃO PROJETADAS SOBRE OS OUTROS SE TORNANDO UMA MANIFESTAÇÃO DA PRÓPRIA REJEIÇÃO. É difícil aceitar, mas a verdade é que na maioria das vezes criticamos nos outros o que cultivamos em nós mesmos. Isso a gente aprende observando ou, no meu caso, ouvindo a Rosane numa sessão de psicoterapia.
Muitas vezes uma mãe põe a perder o talento de um filho porque ao invés de elogiar a pintura no papel critica a sujeira no chão, mesa e paredes. As vezes somos cruéis com nossas criticas quando poderíamos simplesmente elogiar e tornar aquele momento a gênese de algo muito maior e mais importante. O elogio é o primeiro passo na arte de amar as pessoas. A crítica degrada, deprime e desestimula, mas o elogio é um bom alimento. Há no coração humano um desejo intrínseco e natural de ser apreciado. Quando começamos a admirar e elogiar, abrimos um vasto caminho para o amor.
Quando alguma coisa chamar sua atenção de alguma forma, te tocar profundamente, tire vinte minutos para pensar a respeito, as vezes, do nada, achamos respostas que farão a mínima diferença na nossa vida mas que podem ser um farol na vida das pessoas que amamos.
Nos vemos por ai.
L.P.
* O autor do texto é desconhecido, mas quando colei a frase no Google apareceu seu autor, George Vandennan.