Bem-vindo ao Cromossomo XY

Este blog não pretende ser correto, fonte de pesquisa ou referência para seus interessados. Ele foi pensado para que outros homens e mulheres entendam melhor como nós (homens) podemos ser românticos, chatos e invariavelmente humanos. O que pensamos das artes, das coisas que não entendemos e principalmente de nós mesmos. Neste blog há espaço para homens de todas as idades, raças, classes sociais e orientação sexual. É feito de pensamentos livres, sem dogmas culturais ou religiosos.


Seja bem-vindo ao Cromossomo XY.



quinta-feira, 21 de maio de 2015

O segredo do mal às mínguas



Para Anderson Leal e Renan Varella.

Tomei a liberdade de compartilhar uma publicação que li no perfil do Facebook de um amigo porque o desabafo do autor mexeu muito comigo e me despertou uma questão que a anos insiste: porque damos tanta importância para o mal cometido e fazemos tão pouco o bem equivalente?
Quero escancarar meu lado mais otimista pela vida porque se eu não positivar o que há de bom nas coisas que me machucam vai parecer que a finalidade do ser humano é só aprender através da dor e gozar de vez em quando nos intervalos das bordoadas.


Nada é definitivamente tão ruim que não possa ser bom uma hora depois.

Acredito que quando não divulgamos o ódio, a desesperança e outros sentimentos ruins, deixamos que eles apodreçam na sua própria acidez porque são energias que não constroem nada. A partir deles não nascem flores ou ergue-se o futuro. Estes sentimentos não servem para nada além de nos mostrarem o quanto não precisamos deles e, do contrário, se forem divulgados com tanto ardor, podem destruir ainda mais "mecanismos" fundamentais à vida, como a esperança, nossa melhor ferramenta contra momentos difíceis como os atuais. Este é o segredo.

Não estou dizendo que à impunidade deve rolar solta enquanto ficamos calados, sou militante pelo seu exílio na nossa memória anciã, mas sugiro uma inversão polar, transformar uma coisa em outra, esquecer o ruim e trazer a público o que é bom como resposta. Se algo nos indignou, que façamos sem aviso o bem equivalente àquele mal. Nada poderá trazer de volta à vida o ciclista morto na Lagoa durante um assalto, mas não adianta só esbravejar contra os erros das políticas públicas. É importante entender o quanto somos vetores na modificação dessa realidade. Vamos reagir! As ideias estão ai para isso.
Vamos ter fé e fazer o melhor que pudermos. Digo de coisas pequenas e simples como devolver o troco errado, o celular perdido, o produto a mais na sacola, coisas que não só os marginais que mataram o ciclista fazem, mas alguns de nós, do bem, também fazemos.


Se o mal e as maledicências tomam proporções deprimentes devido a combustão do ódio e da revolta, vamos exaltar o bem, que é tão mais poderoso e atua modificando a sociedade que ainda acredito ser composta, na sua grande maioria, por homens e mulheres de bem. Aos pouquinhos vamos construir essa cultura. Tenhamos fé. Acreditemos. Isso vai passar, mas é preciso que conheçamos os extremos da dor e da alegria para no futuro lutarmos bravamente por aquilo que edifica, salva e conforta. Cada um que empunhar a arma da verdade e lutar pelo o que é justo e correto gera energia suficiente para fazer bater mil corações antes desacreditados.

(a publicação)

"Jaime era medico e trabalhava em hospital universitário. Atendia a população pobre, num hospital em ruínas porque acreditava na educação médica de qualidade como instrumento importante para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Morreu porque desafiou a realidade atual, de total abandono, onde o criminoso é tratado como vítima dos 500 anos de colonização errada... Balela. Não, Jaime não terá cruzes na praia de Copacabana.
Não, nenhum favelado vai tacar fogo em ônibus nem fechar com barricadas a curva do Calombo, onde Jaime foi covardemente atacado.
Não, Dilma não ficou estarrecida e sequer vai ligar para a família de Jaime para uma palavra de conforto.
Jaime, cidadão brasileiro, pagava seus impostos em dia.
Jaime sou eu, é você. Jaime somos todos que antes desconfiávamos, mas agora temos certeza, que esse país deu totalmente ERRADO."
País de Merda."



Para cada erro cometido por terceiros, por cada vítima injustiçada e esquecida, tente fazer pelos outros o bem que você acha equivalente e o mundo amanhecerá melhor para muita gente. O mal não merece divulgação para não atuarmos espalhando sua energia tenebrosa, ele merece ser esquecido e reduzido a lembrança de algo que não queremos por perto. Vamos à luta por mais amor, educação, bom senso e, principalmente, pelo bem comum, o mesmo que queremos para nós e àqueles que amamos.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

“A vida é aquilo que acontece enquanto você está fazendo outros planos”

“A vida é aquilo que acontece enquanto você está fazendo outros planos”.
Essa frase, que não faço a menor ideia de quem a escreveu, vem ecoando na minha cabeça faz semanas. Desde que eu a ouvi em um filme fico pensando que o autor escreveu para mim, sem saber. Sei que é pretensão demais achar que algo que foi dito, ou escrito, do outro lado do mundo encontra seu verdadeiro sentido quando acha a minha vida do lado de cá da Guanabara. Mas que parece, parece.

Durante todos esses dias que separaram a pior experiência da minha vida do presente momento eu penso em uma razão aceitável para perdemos, de uma hora para outra, alguém que tanto amamos. Como meu tio mesmo disse uma vez, eu perdi a única cesta onde depositei todos os meus ovos que juntei ao longo da vida e agora me encontro em um desamparo que mais parece um poço escuro e frio de onde passei a me relacionar com o mundo. Chova ou faça sol, o mundo está aqui e eu lá dentro olhando para as paredes e me perguntando, “porque, mãe?”.

Hoje recebi em casa um amigo de mais de vinte anos que me saudou com um emocionante relato que justificou um pouco mais as razões que temos para superar traumas como este. Disse-me que na época que minha mãe se foi ele estava viajando e quis muito me encontrar para dar um abraço e ajudar a sufocar aquela dor. Semanas depois, chorei no seu ombro, reclamei da vida, xinguei o mundo e culpei Deus pelo acontecido, só hoje, 485 dias depois (sim, eu conto as horas), um pouco mais conformado, mas não menos triste, entendi que o destino usa suas peças, neste caso eu e minhas experiências, para mostrar para os outros como corrigir suas trajetórias e ter uma vida mais feliz.
Imaginem o quadro. Ele é o sétimo e único filho homem de uma mãe que não teve a oportunidade de viver sua infância porque muito cedo precisou saiu do Nordeste em busca de recursos para criá-lo deixando-o com a avó. Aos dezesseis anos, quando enfim pode se juntar a ela, estava na ânsia adolescente de um lugar ao sol, movido por toda a sua trajetória familiar de luta, e mais uma vez adiou aquele convívio maravilhoso e necessário. Os anos se passaram, ele saiu de casa, trabalhou duro, casou, descasou, venceu e diante de um momento triste de um amigo, neste caso, eu, tomou a decisão mais esperada desde o anúncio da sua gravidez, viver enfim com a sua mãe, mesmo que em papeis trocados. Tive que me segurar para não me desfazer de novo em lágrimas quando ele disse que baseado na minha experiência de vida ele decidiu que viveria com ela, agora com 70 anos, até que algo muito importante os separasse novamente.

“A vida é aquilo que acontece enquanto você está fazendo outros planos”.

Este relato inicial, quase perdido no meio de tantos assuntos de trabalho, em duas horas que passamos juntos, abasteceu um pouco mais um dos meus reservatórios quase sempre vazios, o do conformismo. Se até ontem eu já tinha esquecido que para tudo na vida existe um propósito, hoje eu me lembrei de que até quando estamos tristes, nosso vazio pode compor a história de alguém e fazê-lo feliz de alguma forma. Não foi o que planejei para minha vida, sofrer tanto a falta de alguém ou servir de exemplo para a posteridade, mas se no final das contas o destino pendura nosso quadro na sala da casa de alguém para não deixar que a experiência seja em vão, tá valendo o esforço de entender que a vida é uma força para a qual não temos controle mesmo quando achamos que ela já está domada.

(Depois de publicado, um leitor me informou que o autor da inquietante frase é John Lennon, do álbum Double Fantasy, de 1980).