“A vida é aquilo que acontece enquanto você está fazendo outros planos”.
Essa frase, que não faço a menor ideia de quem a escreveu,
vem ecoando na minha cabeça faz semanas. Desde que eu a ouvi em um filme fico
pensando que o autor escreveu para mim, sem saber. Sei que é pretensão demais
achar que algo que foi dito, ou escrito, do outro lado do mundo encontra seu
verdadeiro sentido quando acha a minha vida do lado de cá da Guanabara. Mas que
parece, parece.
Durante todos esses dias que separaram a pior experiência da
minha vida do presente momento eu penso em uma razão aceitável para perdemos,
de uma hora para outra, alguém que tanto amamos. Como meu tio mesmo disse uma
vez, eu perdi a única cesta onde depositei todos os meus ovos que juntei ao
longo da vida e agora me encontro em um desamparo que mais parece um poço
escuro e frio de onde passei a me relacionar com o mundo. Chova ou faça sol, o
mundo está aqui e eu lá dentro olhando para as paredes e me perguntando, “porque,
mãe?”.
Hoje recebi em casa um amigo de mais de vinte anos que me
saudou com um emocionante relato que justificou um pouco mais as razões que
temos para superar traumas como este. Disse-me que na época que minha mãe se
foi ele estava viajando e quis muito me encontrar para dar um abraço e ajudar a
sufocar aquela dor. Semanas depois, chorei no seu ombro, reclamei da vida,
xinguei o mundo e culpei Deus pelo acontecido, só hoje, 485 dias depois (sim,
eu conto as horas), um pouco mais conformado, mas não menos triste, entendi que
o destino usa suas peças, neste caso eu e minhas experiências, para mostrar
para os outros como corrigir suas trajetórias e ter uma vida mais feliz.
Imaginem o quadro. Ele é o sétimo e único filho homem de uma
mãe que não teve a oportunidade de viver sua infância porque muito cedo precisou
saiu do Nordeste em busca de recursos para criá-lo deixando-o com a avó. Aos dezesseis
anos, quando enfim pode se juntar a ela, estava na ânsia adolescente de um
lugar ao sol, movido por toda a sua trajetória familiar de luta, e mais uma vez
adiou aquele convívio maravilhoso e necessário. Os anos se passaram, ele saiu
de casa, trabalhou duro, casou, descasou, venceu e diante de um momento triste
de um amigo, neste caso, eu, tomou a decisão mais esperada desde o anúncio da
sua gravidez, viver enfim com a sua mãe, mesmo que em papeis trocados. Tive que
me segurar para não me desfazer de novo em lágrimas quando ele disse que
baseado na minha experiência de vida ele decidiu que viveria com ela, agora com
70 anos, até que algo muito importante os separasse novamente.
“A vida é aquilo que acontece enquanto você está fazendo outros planos”.
(Depois de publicado, um leitor me informou que o autor da inquietante frase é John Lennon, do álbum Double Fantasy, de 1980).
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