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sábado, 25 de junho de 2011

Justiça, Gratidão e Humildade.

Para Vinícius Duarte e Marcia Catita Evangelista.
(Este texto não é uma discussão política, mas uma ode ao bom senso).

Sabe quando você termina uma leitura, um filme ou uma refeição e fica doido pra ter alguém do lado para falar da experiência? Pois é, na semana passada vivi algo parecido depois de ler uma matéria curta e muito feliz na Veja sobre a aproximação de Dilma Rousseff e FHC. O governo da situação, através do ex-presidente Lula e seus lacaios, sempre abominaram a ideia de uma ação de desagravo e gratidão ao também ex-presidente FHC por sua contribuição por azeitar a máquina e colocar o Brasil nos trilhos. Lula quis que o povo brasileiro atribuísse tamanha bonança ao seu governo e que como Getúlio Vargas, seu nome fosse escrito com mérito na mesma constelação onde brilha o cruzeiro do sul, mas isso é política demais e não merece ser discutido agora. O que mais me deixou satisfeito ao ler a matéria em que a presidente Dilma escreveu de próprio punho (?) uma carta a Fernando Henrique parabenizando-o pelos seus 80 anos foi o fato dela mencionar que todos sabiam e admitiam que qualquer decisão ou ação da estrela vermelha nos últimos anos foram baseadas nas determinações do mestre FHC. Diante da vaidade de Lula e da real rivalidade entre os partidos mais poderosos do Brasil, eu pensei que isso jamais aconteceria, mesmo para mim estando claro que um governo seguia a risca os caminhos do outro, para uma classe de Brasileiros beneficiados pelo populismo “lulesco” isso era impensável.

A justiça se fez, querendo Lula ou não, no momento em que a presidente diz que reconhece que Fernando Henrique foi, e ainda é, um “... político habilidoso, o ministro-arquiteto de um plano duradouro de saída da hiperinflação e o presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica...” no Brasil. A maneira gentil de agradecer a contribuição e passar por cima da grosseria arrastada anos após ano por Lula ante um acordo de cooperação em benefício da pátria me comoveu ao ponto de pensar que o simples reconhecimento faz com que prêmios ou bonificações sejam completamente desprezados diante dessa moeda emocional tão valiosa.

Justiça e gratidão dependem de um fator crucial para serem reconhecidos como sentimentos, o aditivo bom-senso – aliás, como quase tudo na vida. Ser justo implica em não tomar para si o que pertence a terceiro(s), nem negar a eles o que lhes é de direito ou devido, isso é muito mais que ser honesto ou ter caráter. Num país onde a cultura política acoberta as falcatruas de uma minoria e o povo não tem voz firme o bastante para vencer anos de prostração e cabresto fica mais difícil pensar em justiça como substantivo. Não me refiro à justiça jurídica, mas aquela mais simples, que nasce nas pequenas atitudes dentro de casa, no trabalho, entre amigos e irmãos. Reconhecer as virtudes que faltam em nós e valorizá-las no outro, mesmo sem um único real em troca gera um bem imensurável e é mãe de outro sentimento conhecido por gratidão. Nossa presidente, em demonstração de grandeza política, dá um show de justiça numa atitude de esforço mínimo, mas de proporção psicológica extrema. Foi elegante em aproveitar a oportunidade do aniversário de FHC para prestar-lhe uma homenagem em carta aberta e discurso simples de gratidão rasgada por ser o mentor de tal mudança que gozamos hoje.

A Gratidão, por sua vez, depende de humildade para perceber que sem as colaborações que nos ergue vida afora, qualquer passo em direção ao erro, seria derradeiro, mas temos oportunidades de aprender e fazer diferente, seja por interesse material ou por valorização do material humano. Um favor pode não custar nada ou custar uma vida quando negado. Um favor pode ser a porta de entrada para o sucesso ou para o fracasso, se estabelecer na posição é problema de cada um.  Se o PT deu um tiro no pé por não ter outro candidato para o governo (Palocci estava sujo demais na ocasião, e se mantém) e elegeu uma mulher para o cargo de soberana do Brasil, ele acertou em substituir a vaselina de Lula pela sensibilidade e humildade de Dilma. Justiça seja feita, pode até existir uma legião por trás das decisões da mulher mais poderosa do mundo, mas seu bom senso é inato e se sobre sai as mancadas de quem erra tentando acertar. 

Pratique a justiça e exagere no bom senso. Dormir num travesseiro livre de ácaros e culpa faz um bem danado à saúde. Nos vemos por ai!
L.P.