Bem-vindo ao Cromossomo XY

Este blog não pretende ser correto, fonte de pesquisa ou referência para seus interessados. Ele foi pensado para que outros homens e mulheres entendam melhor como nós (homens) podemos ser românticos, chatos e invariavelmente humanos. O que pensamos das artes, das coisas que não entendemos e principalmente de nós mesmos. Neste blog há espaço para homens de todas as idades, raças, classes sociais e orientação sexual. É feito de pensamentos livres, sem dogmas culturais ou religiosos.


Seja bem-vindo ao Cromossomo XY.



quinta-feira, 21 de maio de 2015

O segredo do mal às mínguas



Para Anderson Leal e Renan Varella.

Tomei a liberdade de compartilhar uma publicação que li no perfil do Facebook de um amigo porque o desabafo do autor mexeu muito comigo e me despertou uma questão que a anos insiste: porque damos tanta importância para o mal cometido e fazemos tão pouco o bem equivalente?
Quero escancarar meu lado mais otimista pela vida porque se eu não positivar o que há de bom nas coisas que me machucam vai parecer que a finalidade do ser humano é só aprender através da dor e gozar de vez em quando nos intervalos das bordoadas.


Nada é definitivamente tão ruim que não possa ser bom uma hora depois.

Acredito que quando não divulgamos o ódio, a desesperança e outros sentimentos ruins, deixamos que eles apodreçam na sua própria acidez porque são energias que não constroem nada. A partir deles não nascem flores ou ergue-se o futuro. Estes sentimentos não servem para nada além de nos mostrarem o quanto não precisamos deles e, do contrário, se forem divulgados com tanto ardor, podem destruir ainda mais "mecanismos" fundamentais à vida, como a esperança, nossa melhor ferramenta contra momentos difíceis como os atuais. Este é o segredo.

Não estou dizendo que à impunidade deve rolar solta enquanto ficamos calados, sou militante pelo seu exílio na nossa memória anciã, mas sugiro uma inversão polar, transformar uma coisa em outra, esquecer o ruim e trazer a público o que é bom como resposta. Se algo nos indignou, que façamos sem aviso o bem equivalente àquele mal. Nada poderá trazer de volta à vida o ciclista morto na Lagoa durante um assalto, mas não adianta só esbravejar contra os erros das políticas públicas. É importante entender o quanto somos vetores na modificação dessa realidade. Vamos reagir! As ideias estão ai para isso.
Vamos ter fé e fazer o melhor que pudermos. Digo de coisas pequenas e simples como devolver o troco errado, o celular perdido, o produto a mais na sacola, coisas que não só os marginais que mataram o ciclista fazem, mas alguns de nós, do bem, também fazemos.


Se o mal e as maledicências tomam proporções deprimentes devido a combustão do ódio e da revolta, vamos exaltar o bem, que é tão mais poderoso e atua modificando a sociedade que ainda acredito ser composta, na sua grande maioria, por homens e mulheres de bem. Aos pouquinhos vamos construir essa cultura. Tenhamos fé. Acreditemos. Isso vai passar, mas é preciso que conheçamos os extremos da dor e da alegria para no futuro lutarmos bravamente por aquilo que edifica, salva e conforta. Cada um que empunhar a arma da verdade e lutar pelo o que é justo e correto gera energia suficiente para fazer bater mil corações antes desacreditados.

(a publicação)

"Jaime era medico e trabalhava em hospital universitário. Atendia a população pobre, num hospital em ruínas porque acreditava na educação médica de qualidade como instrumento importante para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Morreu porque desafiou a realidade atual, de total abandono, onde o criminoso é tratado como vítima dos 500 anos de colonização errada... Balela. Não, Jaime não terá cruzes na praia de Copacabana.
Não, nenhum favelado vai tacar fogo em ônibus nem fechar com barricadas a curva do Calombo, onde Jaime foi covardemente atacado.
Não, Dilma não ficou estarrecida e sequer vai ligar para a família de Jaime para uma palavra de conforto.
Jaime, cidadão brasileiro, pagava seus impostos em dia.
Jaime sou eu, é você. Jaime somos todos que antes desconfiávamos, mas agora temos certeza, que esse país deu totalmente ERRADO."
País de Merda."



Para cada erro cometido por terceiros, por cada vítima injustiçada e esquecida, tente fazer pelos outros o bem que você acha equivalente e o mundo amanhecerá melhor para muita gente. O mal não merece divulgação para não atuarmos espalhando sua energia tenebrosa, ele merece ser esquecido e reduzido a lembrança de algo que não queremos por perto. Vamos à luta por mais amor, educação, bom senso e, principalmente, pelo bem comum, o mesmo que queremos para nós e àqueles que amamos.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

“A vida é aquilo que acontece enquanto você está fazendo outros planos”

“A vida é aquilo que acontece enquanto você está fazendo outros planos”.
Essa frase, que não faço a menor ideia de quem a escreveu, vem ecoando na minha cabeça faz semanas. Desde que eu a ouvi em um filme fico pensando que o autor escreveu para mim, sem saber. Sei que é pretensão demais achar que algo que foi dito, ou escrito, do outro lado do mundo encontra seu verdadeiro sentido quando acha a minha vida do lado de cá da Guanabara. Mas que parece, parece.

Durante todos esses dias que separaram a pior experiência da minha vida do presente momento eu penso em uma razão aceitável para perdemos, de uma hora para outra, alguém que tanto amamos. Como meu tio mesmo disse uma vez, eu perdi a única cesta onde depositei todos os meus ovos que juntei ao longo da vida e agora me encontro em um desamparo que mais parece um poço escuro e frio de onde passei a me relacionar com o mundo. Chova ou faça sol, o mundo está aqui e eu lá dentro olhando para as paredes e me perguntando, “porque, mãe?”.

Hoje recebi em casa um amigo de mais de vinte anos que me saudou com um emocionante relato que justificou um pouco mais as razões que temos para superar traumas como este. Disse-me que na época que minha mãe se foi ele estava viajando e quis muito me encontrar para dar um abraço e ajudar a sufocar aquela dor. Semanas depois, chorei no seu ombro, reclamei da vida, xinguei o mundo e culpei Deus pelo acontecido, só hoje, 485 dias depois (sim, eu conto as horas), um pouco mais conformado, mas não menos triste, entendi que o destino usa suas peças, neste caso eu e minhas experiências, para mostrar para os outros como corrigir suas trajetórias e ter uma vida mais feliz.
Imaginem o quadro. Ele é o sétimo e único filho homem de uma mãe que não teve a oportunidade de viver sua infância porque muito cedo precisou saiu do Nordeste em busca de recursos para criá-lo deixando-o com a avó. Aos dezesseis anos, quando enfim pode se juntar a ela, estava na ânsia adolescente de um lugar ao sol, movido por toda a sua trajetória familiar de luta, e mais uma vez adiou aquele convívio maravilhoso e necessário. Os anos se passaram, ele saiu de casa, trabalhou duro, casou, descasou, venceu e diante de um momento triste de um amigo, neste caso, eu, tomou a decisão mais esperada desde o anúncio da sua gravidez, viver enfim com a sua mãe, mesmo que em papeis trocados. Tive que me segurar para não me desfazer de novo em lágrimas quando ele disse que baseado na minha experiência de vida ele decidiu que viveria com ela, agora com 70 anos, até que algo muito importante os separasse novamente.

“A vida é aquilo que acontece enquanto você está fazendo outros planos”.

Este relato inicial, quase perdido no meio de tantos assuntos de trabalho, em duas horas que passamos juntos, abasteceu um pouco mais um dos meus reservatórios quase sempre vazios, o do conformismo. Se até ontem eu já tinha esquecido que para tudo na vida existe um propósito, hoje eu me lembrei de que até quando estamos tristes, nosso vazio pode compor a história de alguém e fazê-lo feliz de alguma forma. Não foi o que planejei para minha vida, sofrer tanto a falta de alguém ou servir de exemplo para a posteridade, mas se no final das contas o destino pendura nosso quadro na sala da casa de alguém para não deixar que a experiência seja em vão, tá valendo o esforço de entender que a vida é uma força para a qual não temos controle mesmo quando achamos que ela já está domada.

(Depois de publicado, um leitor me informou que o autor da inquietante frase é John Lennon, do álbum Double Fantasy, de 1980).

sábado, 26 de julho de 2014

Texto Com Título Provisório

Resolvi quebrar o gelo de quase um ano sem publicar no blog. Estive pensando quando e como eu voltaria e qual seria o tema, o assunto do resurgimento. Não queria que o óbvio falasse por mim. Tantas coisas importantes aconteceram nesse período de paralisia, que um mergulho mais profundo em qualquer assunto ligado àqueles fatos seria uma luta de titãs. De um lado do octógono da minha existência, vestindo calção branco, eu. E do outro lado, nua, a temida, catarse. Quanto maior o problema, pior a titânica. Não era a hora. Aliás, uma hora ou outra a gente precisa tirar as pedras do sapato. Parar para pensar naquilo que nos interfere, fragiliza e às vezes paralisa, porque não dá para ser um homem-integral se alguns assuntos não forem resolvidos antes de se chocarem com outros que, certamente, virão no decorrer da vida.

Na última noite fui convidado por um grupo de velhos amigos para uma bebida e depois um agito na noite chuvosa e tranquila de Ipanema. Na verdade nem sei se agito combina com chuva e se tranquilidade combina com a Ipanema atual, porque dos dois, só a chuva prevaleceu. Para que não reste dúvida no decorrer deste texto, vale uma colocação um pouco grosseira, mas fundamental para a conclusão do meu raciocínio. A mesa de velhos amigos contava com um mais recente. Chegado mais por falta de opção, que afinidade propriamente. Mas este assunto grosseiro eu retomo outra hora, o que importa agora são as bebidas.

Enquanto os drinks chegavam, eu reconhecia neles a personalidade de cada um naquela mesa de velhos conhecidos e descobria um pouco mais sobre o recém-integrante - usei a palavra “recém” porque novo não seria apropriado, já que o mais novo era um dos mais antigos e o mais velho, o recém-chegado. Entre os pedidos, estavam drinks clássicos como margarita, “sex on the beach”, cosmopolitan e a sempre boa cerveja. Se cada um reparasse no outro da forma como reparei, dava para acrescentar no discurso dirigido, os assuntos que seriam da preferência de cada um, dada a exposição óbvia das personagens. Se eu estivesse na mesa ao lado, sem nada para fazer, seria capaz de discorrer sobre a infância, a idade e o signo de cada um antes mesmo que pagassem a conta. O mais curioso foi a escolha do recém-chegado, não me surpreendeu que o seu pedido fosse uma novidade, e antes mesmo de bebê-lo até o fim, quebrasse a gigantesca taça com líquido neon em uma apoteótica demonstração de sentimentalidade comovendo todos a mesa.

Antes que alguém se sinta incomodado e se pergunte por que a introdução até agora está desamarrada do enredo, vou dar um título provisório para este texto, Amenidades Que Contam Segredos.

As amenidades não são amenidades e nunca deveriam ser tratadas assim, porque um gesto, uma simples escolha no cardápio, expressa o quanto de nossas experiências levamos conosco até quando não temos a menor obrigação de expô-las. Estávamos tão expostos uns para os outros naquele momento que seriamos incapazes de perceber este fato se um estranho não interferisse na organização do tabuleiro. Era como se uma lasca de madeira no lugar de um peão expusesse a fragilidade de uma partida de xadrez. Em outras palavras, a única pessoa que não poderia reconhecer o “antiético presente”, caso houvesse um, era o novato. Segredos de quase uma década de amizade estavam sobre a mesa gratuitamente e ninguém percebeu.

Minha observação não tem o menor fundamento porque estávamos entre amigos em uma mesa, longe da bancada da ONU, mas achei tão intrigante o fato de que estamos a todo tempo mascarando nossos discursos e comportamento, que nem nos ligamos que um simples pedido pode ser mais preciso que um raio X do que somos intimamente.
Características primárias e imutáveis da essência de cada um boiando em drinks de cegos. Não estávamos ali para encarar estes fatos, dada às características da reunião e a liberdade de sermos o que somos e nos mostrarmos como quisermos entre amigos. Mas a máxima que diz que “o homem nasce para aquilo que ele é” ficou tão clara para mim naquele momento que achei válida a reflexão e um bom motivo para voltar a escrever.
  
Para finalizar, um recado ao recém-chegado.
Minhas sinceras desculpas e seja bem-vindo. Te dou a minha palavra que jamais revelarei sua identidade. Todo e qualquer trecho que o exponha nestas linhas, tenha-os como uma homenagem bem humorada, porque se eu tivesse que decifrá-lo pelo seu pedido, diria que ambos eram os mais alegres da noite.


L.P.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Um Milagre Para Quem Sabe Ver

Para  Thyerrs Gahyva e Lidia Paiva.


Quem é suficientemente seguro ao ponto de desempenhar uma função pela primeira vez e conseguir os melhores resultados porque acredita que um elemento fora do comum é capaz de mudar o rumo dos acontecimentos? Acredito que poucos adultos conseguem. Só para ajudar na resposta eu gostaria de lembrar aos caros amigos que quando somos crianças nossas cabecinhas funcionam como uma fonte de água cristalina onde nossos pais, ou responsáveis, lavam suas mãos sempre que realizam algum feito e o efeito é uma percepção de mundo emprestada com ecos, inclusive, nas nossas atitudes décadas além.

Esta tarde tive uma péssima notícia. Meus pais querem cortar uma mangueira que anda atrapalhando os planos para a construção de um novo galpão nos fundos da nossa casa de Xerém. Para a árvore ficar onde está ela deverá trespassar a laje e ter seu vigor recuperado depois de anos de agressão por ervas daninhas. Um trabalho de recuperação árduo demais para uma árvore moribunda que quase não floresce ou frutifica.

Enquanto vislumbrávamos o resultado para depois das obras, deixei meu pai gesticulando e apontando para direções infinitas que parecia que o novo prédio sumiria no horizonte e lembrei-me de uma coisa que mais tarde seria a salvação daquela velha árvore. Quando eu e minha irmã mais velha éramos crianças minha mãe dizia que quando tivéssemos provas na escola deveríamos colocar dentro do sapato uma folha nova da velha mangueira, um broto verde quase transparente, que na hora exata lembraríamos tudo o que estudamos e tiraríamos ótimas notas. Nunca fomos os melhores alunos, mas era fato que sempre que uma boa nota aparecia no resultado, o mérito era da mangueira. Aquela árvore fez inúmeras provas e redações e passou com louvor em todas, até quando eu fiquei reprovado no 6º ano do fundamental pensei ter escolhido as piores folhas, que elas não eram novas o suficiente, e mesmo assim ainda era a árvore naquele momento. Quando perguntei a minha mãe se ela se lembrava dessa história ocorrida há mais de 25 anos atrás ela sorriu e disse que era a única forma de nos tranquilizar porque percebia o quanto a obrigação nos desgastava.

Na verdade, o que ocorre é que às vezes deixamos de acreditar na gente. Deixamos de fazer por medo de não fazer direito quando o que faz diferença é simplesmente... fazer! Com o passar dos tempos e a o acúmulo de experiência nos tornamos mestres na arte de fazer coisas-que-mais-ninguém-faz. É natural. Eu sempre acreditei que a velha mangueira era mágica, que por mais que eu estudasse só alcançaria o resultado esperado se sua folha estivesse no meu pé. Deixou de ser exaustivo porque minha mãe nos fez acreditar que uma força maior e independente de nós faria diferença. Ela usou do melhor artifício para ter retorno no seu investimento, fez duas crianças acreditarem que milagres daquela categoria aconteciam sem precisar de muita explicação porque a nossa visão do mundo começa no discurso de quem nos cuida e nos acolhe.

Hoje eu não seria capaz de acreditar nem naquilo que está sob meus olhos devido à péssima influência das minhas experiências, mas uma memória repleta de afeição foi capaz de trazer àquelas três pessoas, que decidiam sobre vida ou morte de um ente querido, lembranças carinhosas daquela que um dia serviu de desculpa para o sucesso dos seus filhos e que ainda pode ser muito útil aos netos, e quiçá, bisnetos se em seus corações couberem o benefício da fantasia.

A mangueira fica, obrigado, e com ela a historia de quem nem se lembra de quando deixou de acreditar no poder milagroso de um mito para acreditar na própria capacidade de fazer benfeito e com dedicação.     

L.P.


sexta-feira, 5 de abril de 2013

Quando A “Excelência” Encontra A “Técnica”.


Quem nunca parou para pensar em como determinado prédio, ponte ou até mesmo um vestido pode ser concebido? Quais técnicas e inspirações foram usadas e quanto de transpiração foi dedicado? É impressionante ver que ótimos resultados são frutos da óbvia dedicação e das escolhas certas que a gente só consegue sob horas de análise e muito, mas muito estudo. Aguardar o momento mais pertinente para a decisão-chave talvez seja o grande desafio para quem tem pressa de realizar e por isso ouvimos o quanto às coisas tendem a não darem certo. Acredito que quando você persegue um resultado é se dedica a ele com mesma vontade que a vida te move a probabilidade de sucesso são de quase 105%. Isso mesmo, 105%, porque posso garantir que ainda vai sobrar motivação para o próximo projeto.

Recentemente fui ao teatro com duas amigas assistir a um espetáculo que se identificava em linhas gerais por “Uma Comédia Poética”, mas deixava a desejar pelo título porque na construção dos significados ele, por si só, era auto-explicativo. Um pouco descrente, mas com um desejo enorme de ser surpreendido nos deixamos levar pelos primeiros minutos do espetáculo que apresentou personagens enormes encenados com maestria amparados por um texto de uma qualidade poética indescritível. O dilema “Tostines” pairou sobre nós como um saco de areia e até agora me pergunto se o texto era bom porque os atores mostravam dominá-lo perfeitamente ou se os atores eram tão incríveis que qualquer prosa decidida as pressas não faria a menor diferença neste contexto. A resposta é não. Neste caso, e nem sempre em outros, a excelência encontrou a técnica e a experiência em uma sala meio escura e o resultado está em Canastrões. Um espetáculo poético, sensível e demasiado verdadeiro que assume e festeja a posição de “fábrica de ilusões” que o teatro representa e que nasceu da necessidade humana de ver sua própria história representada com outras cores e sabores que só quem conta um conto pode ilustrar.

Se todas as vezes que esbarrássemos com obras como esta, ou outras da engenharia, tivéssemos a oportunidade de entendê-las um pouco, certamente o primeiro sentimento visível, pintado de vermelho, seria a “vontade de realizar”. Acredito que muito mais que dominar o fogo e andar sob duas patas a humanidade só chegou a este nível de evolução pelo seu desejo incontrolável de realizar coisas. Tantas coisas e infinitas coisas que só diante do magnífico podemos mensurar sua capacidade.

Canastrões está em cartaz até o dia 14/04, de quinta a domingo, no Teatro dos Quatro, no Shopping da Gávea, Rio de Janeiro.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Bonito Por Acaso

Andei pensando sobre o que é ser belo e quais as vantagens práticas do impacto da beleza sobre a vida das pessoas. Para começar a beleza deveria ser uma conquista, não uma característica genética ou algo que se consiga com algum dinheiro. As pessoas deveriam embelezar com a maturidade, desta forma saberíamos usar melhor a beleza e valoriza-la mais.

Comer melhor, dormir bem, viver sem estresse, sem álcool, tabaco, drogas e o malicioso sódio nós só conseguimos quando já desperdiçamos parte do viço que nos faz belos. Enquanto somos jovens não estamos nem ai para aquela pele incrível, não damos a mínima para entender o nosso metabolismo e um dia percebemos que até a mínima sombra da mais tênue beleza da juventude deixou de nos acompanhar. O tempo e o descuido fazem dos espelhos nossos maiores inimigos. Então porque mudar a alimentação, dormir mais, fazer yôga, malhar desesperadamente e gastar uma fortuna em cremes se toda tentativa de segurar aquele fiozinho que nos liga a clássica beleza divina vai arrebentar um dia? Inexoravelmente um dia deixaremos de ser quem fomos aos 20, 30, 40 anos para arrastarmos na memória e bem longe dos espelhos a saudade das glórias da juventude.

A natureza da nossa evolução não nos contemplou com a igualdade porque a intenção era outra. Nos primórdios da nossa existência, antes dos gregos, da revolução industrial e da penicilina, a vida era muito mais difícil, o homem não vivia muito e tudo era motivo para morrer. Ainda que pensantes, éramos ignorantes e rudes. Disputávamos a comida para defendermos o nosso direito de viver e ainda tínhamos a obrigação instintiva de povoar a parte seca e firme da terra. A beleza foi um trunfo facilitador, o mesmo usado pelas aves em suas infinitas cores e cantos, pelas flores e qualquer ser vivo que precise de outro igual para perpetuar a espécie. A beleza tem origem matemática, já que a simetria dos corpos se encarrega de nos fazer entender que determinada pessoa é mais ou menos bonita e isto influência direta e objetivamente nas nossas escolhas.

Via de regra, a natureza não permitiu que seus mecanismos nos embelezassem à medida que fossemos merecedores porque não existe um padrão de beleza determinado por ela, tampouco pela existência de um espírito merecedor. Mas matematicamente sim, já que a simetria é um fator comprovado para que haja beleza e é uma determinação genética, portanto natural. Valorizar a estatura, cor da pele, cabelo e outros pequenos detalhes foram determinantes culturais para que grupos de nômades ao redor do mundo fiassem o que chamamos hoje de sociedade moderna. Ora pela própria escolha, ora por não terem tido escolha.

Hoje em dia usamos a beleza para conquistar desde um bom emprego (estudos afirmam que, atualmente, os mais altos cargos são ocupados por homens e mulheres considerados belos) até status social, já que com o aumento da expectativa de vida somos velhos por mais tempo e menos bonito por consequência dos anos vividos, e exatamente por este motivo a beleza se tornou moeda de troca em muitas sociedades onde as virtudes têm menos valor que a aparência física.

Não nos consideremos menos merecedores por não sermos o belo contemporâneo. Sejamos merecedores pelas nossas virtudes, pela importância que damos a nossa saúde e pelas coisas maravilhosas que realizamos. A beleza é um fio frágil nas mãos da gravidade e dos radicais livres e um dia acaba, mas as conquistas de um coração virtuoso permanecem impregnadas na nossa carne e na nossa história. Nosso legado é o que nos torna inesquecíveis e faz a vida valer a pena. A beleza é só uma distração passageira.

Para quem a cultura negou beleza a natureza deu feromônios contra o frio.

L.P. 

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Liberdade. Eu me chamo solidão.


Uma das coisas que mais gosto de fazer na vida é pedalar. Sentir o vento no rosto, o suor escorrendo nas costas, a tensão nos músculos, tudo isso me enche de vida e amplia minha sensação de liberdade, não só a liberdade de fazer o que quero, mas aquela do desprendimento do corpo, aquela que faz os pássaros mergulharem no céu em voos rasantes sem motivos.

Num traçado magnífico entre a Marina da Glória e o Aterro do Flamengo, desde a enseada de Botafogo e a orla de Copacabana até Ipanema e Leblon, fiz a corrente da minha bicicleta ranger entre a coroa e os peões mais de um milhão de vezes. Em escaladas vigorosas no pedal me lancei rumo a uma direção onde só à liberdade me guiava, eu só sabia onde queria chegar e para onde precisava voltar no final. Meu caminho e a mesma liberdade que rege o vento; O mar, sempre generoso, que serve de margem ao meu traço imaginário; Sob o sol e o olhar perdido de milhares de testemunhas desfrutei da beleza das ruas coloridas de etnias. Todas estas coisas me ajudaram a perceber que a liberdade é quase 50% constituída de solidão. Uma é condição da existência da outra, sem exceção a regra.

Gente por toda parte com saudade do sol que deixou a cidade cinza quase cinco dias. Uma multidão que caminhava desordenada por todos os lados. As janelas, nos edifícios da orla, salpicadas de vultos solitários e muita gente acompanhada de ninguém. Tudo isso me fez pensar naqueles quase 15% da população residente no Rio feita de migrantes que vieram para cá nos últimos cinco anos, e principalmente, no motivo que as fizeram mudar tão radicalmente suas vidas.

Abandonar a família, lugares e a própria história, elementos que compõem nosso DNA, nos fragiliza e nos torna alvo fácil da saudade. É um ciclo vicioso. A saudade nos faz usar mal a liberdade, optar pelo excesso de atividades, vícios e administrar mal nosso dinheiro. Depois nos aprisiona e revela a outra face de ser livre, a extrema solidão. É o cachorro atrás do rabo, você decide ser livre e acaba preso a um sistema que você mesmo criou. Ao longo da vida percebi que muitos grupos são formados por pessoas sem familiares por perto numa corrente antissolidão, como se fosse um antídoto, uma espécie de amor sintético, algo que sirva como família mesmo que não possam chamá-los assim. Passam sua existência de grupo em grupo como um nômade de sentimentos, absorvem o que precisam e saem. Claro que este caso está cheio de exceções! Outras pessoas resolvem bem esta falta exatamente porque gozam de amor genuíno estando constantemente entre os seus e o resultado é mais segurança, menos exposição e saúde abundante. Até na vida profissional, quem tem família por perto tende a ter mais sucesso.

Voltando a liberdade, seja qual for o motivo que nos leva a buscá-la - seja para sair do armário (ou entrar nele), ser hippie, estranho ou excêntrico - a solidão certamente estará no meio do caminho e em algum momento esbarraremos com ela. Algumas pessoas encaram muito bem esta condição, outras piram, adoecem e acabam voltando para casa piores que quando saíram. Amargos e derrotados. O que nunca devemos esquecer é que muita liberdade aprisiona. Seja o que for que te faça buscá-la use como guia os seus valores e jamais rompa com a sua origem. Muitos erros são por ocorrência da solidão e pela vã irresponsabilidade do nosso Sistema de Recompensa que nos permite a toda hora errar mais um pouquinho de tanto que merecemos "escapismos" até não enxergarmos a luz que ilumina a liberdade verdadeira.

L.P.

“A maior ironia da solidão é que nós nunca estamos sozinhos no que sentimos”.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Depósito arbitrário, saldo inesperado.

Difícil entender porque as pessoas reclamam tanto das respostas que o universo dá as suas intenções. Muitas vezes contrárias ao esperado, mas muito fáceis de entender. Se o universo é como uma instituição bancária ou um fundo de capitalização onde depositamos nossos interesses para resgatarmos com bônus acumulados é natural que para cada investimento tenhamos um saldo a resgatar, seja ele bom ou ruim. Aquele conteúdo é resultado do que investimos, portanto é nosso dever assumirmos as consequências do que arbitrariamente aplicamos nele. Tenho andado muito atento a isso, por que qualquer investimento gera saldo a resgatar equivalente a intenção do depósito.

Para que você entenda porque este assunto pouco discutido merece reflexão vou citar alguns exemplos vividos bem recentemente onde seus protagonistas não gostaram do que receberam e tentaram justificar o “prêmio” com argumentos, digamos... incabíveis.


Na maternidade, a jovem e inexperiente enfermeira passa no final do horário do jantar para retirar a mesa deixada intacta pela parturiente. O marido, revoltado, se nega a deixar que a refeição fria e possivelmente infectada deixe o quarto. Seu argumento contra o protocolo do hospital é que mesmo duas horas depois de servida a refeição, sua mulher, em trabalho de parto, não teve como comê-la. Respeitando este protocolo a enfermeira retira o prato e deixa o marido profundamente irritado. Ele leva a reclamação à direção do hospital e, como esperado, fica sem resposta.
  
Um homem, que é assumidamente atrasado em todas as ocasiões, tem um acesso de raiva porque marcou um encontro e foi deixado esperando por mais de quarenta minutos pela mulher. Quando ela chegou, ele se sentiu no direito de se escandalizar com o fato e cobra-la, rispidamente, pela falta. E o seu comportamento, sempre-atrasado, encarado com tolerância pela mulher até então, passou a ser considerado desrespeitoso, grave e intolerável. Era melhor ter ficado quieto. 

Um grupo de jovens esportistas definiam seus encontros através de um chat para que assuntos pertinentes ao hobby fossem tratados e que todos fossem notificados e participassem dos encontros. Um deles aproveita a boa audiência e usa o canal para tratar de outros assuntos que divergiam do interesse do grupo e em consequência do mau uso é excluído. O jovem, que por razões óbvias não concordou com a atitude do grupo, sequer reconheceu seus excessos e se desculpou, preferiu se afastar vitimado. 

Exemplos como estes deixam claro que muitos dos nossos aborrecimentos são respostas aos nossos comportamentos arbitrários aos pequenos protocolos que mantêm os microssistemas funcionando. Se queixar porque o segurança do banco não permitiu a entrada às 16h10; reclamar com o vendedor de uma loja de sapatos que a liquidação acabou da noite para o dia ou revoltar-se contra uma companhia aérea que cobra o dobro do valor do bilhete para trocar o nome do passageiro de um voo concorrido são provas que tentamos atropelar alguns serviços que foram pensados para funcionar em benefício de nós mesmos. Estes exemplos servem para nos ensinar que devemos ter atenção as nossas escolhas e que devemos concentrar os nossos interesses em atitudes que levam ao bom funcionamento destes sistemas, porque geralmente brigamos para ter direito a coisas que já nasceram cobertas de regras para que funcionem bem. Caso contrário, ainda não existiriam, o que seria um atraso muito maior.

Então fica a dica: Antes de reclamar de algo pense em quem de fato tem razão. Pense que a esfera social é bem maior que o seu problema pessoal. Saia de casa mais cedo. Aproveite para resolver os problemas na primeira vez que pensou neles e lembre-se, a porta do banco trava para a sua segurança.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Diário de Bordo / Europa 2012 – Parte 1.


ROMA.
 
Uma das minhas maiores ambições é sem dúvida o conhecimento. Acredito que de tudo que nos possa ser tirado, o conhecimento é a única coisa que só se perde com a insanidade e a morte. Pobre ou rico tendo ou não onde se sentar, para contemplar o conhecimento basta apenas interesse no coração e tempo para se dedicar.
 

Sou daquelas pessoas que demoram a acreditar no que os olhos vêem e que precisam tocar em tudo para terem certeza de que algo “É” realmente. Imaginem esta pessoa solta numa cidade em que cada coisa parece existir para te chocar. É um “parque de diversões” do conhecimento onde a presença do homem está marcada por milênios de existência cognitiva na mínima pedra que fazemos rolar ao subir a colina do Palatino Romano. É diferente de tudo que se pode ver e sentir porque a nossa percepção parece não estar adaptada para tanto tempo de história. Parece mentira. Cenário idealizado para atrair turistas curiosos. 

Algumas vezes não fazia diferença se uma coluna ou muralha tivesse sido criada no século III a.C ou XI d.C. porque minha mente processa a informação de forma analógica. Ou seja, preciso que todo processo seja representado em escala do começo ao fim, como no velocímetro do carro. Talvez porque minha cultura e a forma como aprendi a “curta” história do Brasil funcione como uma escala. Cabral sai de Lisboa a caminho das Índias e no dia 22 de abril de 1500 descobre, sem querer, o Brasil. Depois disso, sai ouro, entra navio, rompe-se o tratado de Tordesilhas, chegam mais navios portugueses, holandeses, franceses, etc. Nasce um bebezinho lindo na França e dão a ele o nome de Napoleão Bonaparte. Depois de crescido, ele resolve conquistar a Europa e põe pra correr a família real portuguesa que entre China, África, Índia e Brasil, escolhe o último destino por ser mais perto ou simplesmente porque tinha que ser assim. É abolida a monarquia, entram os militares, depois os presidentes civis e agora somos a sexta economia com a Dilma na direção. Uma linha do tempo complexa, mas breve em seus 500 anos de história. 

Na Roma Antiga esta “escala” pula do século XIV para muito antes de Cristo e entre tantos imperadores se sobrepondo fica muito difícil entender a sucessão. Cada um querendo aparecer mais que outro, construir templos mais magníficos, conquistar cada vez mais territórios e tantas outras coisas. No final aquilo virou um tormento na minha cabeça e já não me interessavam as histórias de Júlio César, Augusto, Cláudio, Calígula ou Tito. Eu confundia todos os períodos e busquei entender apenas o que estava tão bem representado no contexto histórico: a beleza da cidade e o poder do acaso. Não meramente o acaso, mas muito dele.

Depois que a Roma antiga havia passado (nem tanto porque toda hora se tropeça em algo) outra cidade se apresentava, a religiosa, ou Roma Cristiana como eles chamam. No Estado do Vaticano fui visitar a magnífica Basílica de São Pedro e seus tesouros. Fiquei muito tocado pelo fato de que foi provado que sob o altar da basílica está enterrado São Pedro, um dos doze apóstolos de Jesus e o primeiro Papa. Por esta razão, muitos Papas, começando pelos primeiros, têm sido enterrados neste local. Sempre existiu um templo dedicado a São Pedro em seu túmulo. Inicialmente era extremamente simples, mas com o passar do tempo os devotos foram aumentando o santuário, o que culminou na atual basílica. Embora a Basílica de São Pedro não seja a sede oficial do Papado, certamente é a igreja que mais conta com a participação do Papa. Uma vez que a maioria das cerimônias papais é realizada ali devido à sua dimensão, à proximidade com a residência do pontífice e à localização privilegiada no Vaticano.

Depois da basílica de São Pedro foi a vez do Museu do Vaticano, antiga residência papal. Obras magníficas desde a Roma Antiga até o Renascimento estão catalogadas e expostas nos seus salões ricamente decorados pelos maiores artistas de todos os tempos. Entrar na Capela Sistina, onde se realiza o Conclave (eleição do novo papa) e perceber que a obra A Criação de Adão, de Michelangelo, é de longe a mais interessante, foi como andar nas nuvens. Mesmo com uma multidão vazando pela porta como água. Hoje, quase um mês depois, me lembro apenas do que meus olhos viram e das sensações na pele, do ar frio circulando e dos rostos paralisados diante de tanta beleza. Não tenho registro de som algum no local, apesar de lotado. Só me lembro daquelas imagens quase pingando do teto.

Quando eu cheguei a Roma não tinha muita noção da força que a cidade exercia sobre sua própria atmosfera. Parece que existe um vórtice que joga o ar de todos os cantos para dentro dela. É uma energia muito forte, uma pressão contra o solo. Com tanta beleza e riquezas de valores históricos inestimáveis não poderia ser diferente. Muitos comentam sobre a energia que emana do Coliseu, mas que eu não senti. É magnífico. Mas devido ao tempo, os espíritos dos gladiadores devem tê-lo abandonado e hoje é um lugar de paz. A Pietá de Michelangelo, dentro da Basílica de São Pedro, está tão longe do público que através dos livros é possível ter uma ideia melhor da sua beleza. O Panteão de Agripa (27 a.C.) permanece fiel à sua forma original, apesar de ter sido destruído por um incêndio e reconstruído por Adriano em 127 d.C. É preciso entrar nele e ler sua história mais de uma vez para se ter noção da sua grandiosidade. O Vaticano e suas conquistas papais ergueram um estado rico com relíquias dignas dos mais antigos reinados e uma história de poderes que homem algum jamais terá novamente. Tudo junto e misturado num transito infernal com calçadas repletas de indianos e africanos praticando o comércio de todo tipo de quinquilharias e artigos de luxo falsificados. São milhares de pessoas nas ruas, o que torna difícil identificar quem é turista ou cidadão, salvo pelas caras perplexas a cada esquina. 

Ficam as dicas:

1- Roma é muito cara. Programe sua estada com toda cautela para não desperdiçar seus Euros. Vale a pena passar nos mercados e abastecer o quarto com sucos, iogurtes, pães e outras delicias que você só encontra na Europa;
2- Não compre o Roma Pass, ticket que te dá direito a entrada nos museus, Forum Romano, Vaticano e etc. Custa €90,00 e te aprisona por 3 dias. Crie um roteiro de acordo com seus interesses, assim ficará mais satisfeito;
3- Se você não fala italiano, fale pelo menos inglês. Mas se não falar nenhum dos dois vá assim mesmo;
4- Prefira fazer todo percurso na cidade a pé, o transito é louco e os pontos turísticos não são distantes um do outro;
5- A cidade é muito mal sinalizada, leve seu guia de Roma em português para garantir.
6- A noite em Roma é parada. Não vá pensando em grandes emoções, baladas e afins porque a frustração é certa;
7- O Coliseu e a Fontana de Trevi devem ser vistos durante o dia e também a noite. São dois momentos que fazem a diferença no olhar;
8- Compre só a primeira garrafa de água e depois reabasteça pela cidade. Existem mil fontes de água potável, uma em cada esquina.
 

Aproveite!
L.P.