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segunda-feira, 15 de julho de 2013

Um Milagre Para Quem Sabe Ver

Para  Thyerrs Gahyva e Lidia Paiva.


Quem é suficientemente seguro ao ponto de desempenhar uma função pela primeira vez e conseguir os melhores resultados porque acredita que um elemento fora do comum é capaz de mudar o rumo dos acontecimentos? Acredito que poucos adultos conseguem. Só para ajudar na resposta eu gostaria de lembrar aos caros amigos que quando somos crianças nossas cabecinhas funcionam como uma fonte de água cristalina onde nossos pais, ou responsáveis, lavam suas mãos sempre que realizam algum feito e o efeito é uma percepção de mundo emprestada com ecos, inclusive, nas nossas atitudes décadas além.

Esta tarde tive uma péssima notícia. Meus pais querem cortar uma mangueira que anda atrapalhando os planos para a construção de um novo galpão nos fundos da nossa casa de Xerém. Para a árvore ficar onde está ela deverá trespassar a laje e ter seu vigor recuperado depois de anos de agressão por ervas daninhas. Um trabalho de recuperação árduo demais para uma árvore moribunda que quase não floresce ou frutifica.

Enquanto vislumbrávamos o resultado para depois das obras, deixei meu pai gesticulando e apontando para direções infinitas que parecia que o novo prédio sumiria no horizonte e lembrei-me de uma coisa que mais tarde seria a salvação daquela velha árvore. Quando eu e minha irmã mais velha éramos crianças minha mãe dizia que quando tivéssemos provas na escola deveríamos colocar dentro do sapato uma folha nova da velha mangueira, um broto verde quase transparente, que na hora exata lembraríamos tudo o que estudamos e tiraríamos ótimas notas. Nunca fomos os melhores alunos, mas era fato que sempre que uma boa nota aparecia no resultado, o mérito era da mangueira. Aquela árvore fez inúmeras provas e redações e passou com louvor em todas, até quando eu fiquei reprovado no 6º ano do fundamental pensei ter escolhido as piores folhas, que elas não eram novas o suficiente, e mesmo assim ainda era a árvore naquele momento. Quando perguntei a minha mãe se ela se lembrava dessa história ocorrida há mais de 25 anos atrás ela sorriu e disse que era a única forma de nos tranquilizar porque percebia o quanto a obrigação nos desgastava.

Na verdade, o que ocorre é que às vezes deixamos de acreditar na gente. Deixamos de fazer por medo de não fazer direito quando o que faz diferença é simplesmente... fazer! Com o passar dos tempos e a o acúmulo de experiência nos tornamos mestres na arte de fazer coisas-que-mais-ninguém-faz. É natural. Eu sempre acreditei que a velha mangueira era mágica, que por mais que eu estudasse só alcançaria o resultado esperado se sua folha estivesse no meu pé. Deixou de ser exaustivo porque minha mãe nos fez acreditar que uma força maior e independente de nós faria diferença. Ela usou do melhor artifício para ter retorno no seu investimento, fez duas crianças acreditarem que milagres daquela categoria aconteciam sem precisar de muita explicação porque a nossa visão do mundo começa no discurso de quem nos cuida e nos acolhe.

Hoje eu não seria capaz de acreditar nem naquilo que está sob meus olhos devido à péssima influência das minhas experiências, mas uma memória repleta de afeição foi capaz de trazer àquelas três pessoas, que decidiam sobre vida ou morte de um ente querido, lembranças carinhosas daquela que um dia serviu de desculpa para o sucesso dos seus filhos e que ainda pode ser muito útil aos netos, e quiçá, bisnetos se em seus corações couberem o benefício da fantasia.

A mangueira fica, obrigado, e com ela a historia de quem nem se lembra de quando deixou de acreditar no poder milagroso de um mito para acreditar na própria capacidade de fazer benfeito e com dedicação.     

L.P.


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