Resolvi quebrar o gelo de quase um ano sem publicar no blog.
Estive pensando quando e como eu voltaria e qual seria o tema, o assunto do
resurgimento. Não queria que o óbvio falasse por mim. Tantas coisas importantes
aconteceram nesse período de paralisia, que um mergulho mais profundo em
qualquer assunto ligado àqueles fatos seria uma luta de titãs. De um lado do octógono
da minha existência, vestindo calção branco, eu. E do outro lado, nua, a temida,
catarse. Quanto maior o problema, pior a titânica. Não era a hora. Aliás, uma hora ou outra a gente
precisa tirar as pedras do sapato. Parar para pensar naquilo que nos interfere,
fragiliza e às vezes paralisa, porque não dá para ser um homem-integral se
alguns assuntos não forem resolvidos antes de se chocarem com outros que,
certamente, virão no decorrer da vida.
Na última noite fui convidado por um grupo de velhos amigos
para uma bebida e depois um agito na noite chuvosa e tranquila de Ipanema. Na
verdade nem sei se agito combina com chuva e se tranquilidade combina com a Ipanema
atual, porque dos dois, só a chuva prevaleceu. Para que não reste dúvida no
decorrer deste texto, vale uma colocação um pouco grosseira, mas fundamental
para a conclusão do meu raciocínio. A mesa de velhos amigos contava com um mais
recente. Chegado mais por falta de opção, que afinidade propriamente. Mas este
assunto grosseiro eu retomo outra hora, o que importa agora são as bebidas.
Enquanto os drinks chegavam, eu reconhecia neles a personalidade
de cada um naquela mesa de velhos conhecidos e descobria um pouco mais sobre o recém-integrante
- usei a palavra “recém” porque novo não seria apropriado, já que o mais novo era
um dos mais antigos e o mais velho, o recém-chegado. Entre os pedidos, estavam drinks clássicos
como margarita, “sex on the beach”, cosmopolitan e a sempre boa cerveja. Se cada
um reparasse no outro da forma como reparei, dava para acrescentar no discurso dirigido, os assuntos que seriam da preferência de cada um, dada a exposição óbvia das
personagens. Se eu estivesse na mesa ao lado, sem nada para fazer, seria capaz
de discorrer sobre a infância, a idade e o signo de cada um antes mesmo que pagassem a conta.
O mais curioso foi a escolha do recém-chegado, não me surpreendeu que o seu
pedido fosse uma novidade, e antes mesmo de bebê-lo até o fim, quebrasse a gigantesca
taça com líquido neon em uma apoteótica demonstração de sentimentalidade comovendo
todos a mesa.
Antes que alguém se sinta incomodado e se pergunte por que a
introdução até agora está desamarrada do enredo, vou dar um título provisório
para este texto, Amenidades Que Contam Segredos.
As amenidades não são amenidades e nunca deveriam ser
tratadas assim, porque um gesto, uma simples escolha no cardápio, expressa o
quanto de nossas experiências levamos conosco até quando não temos a menor
obrigação de expô-las. Estávamos tão expostos uns para os outros naquele
momento que seriamos incapazes de perceber este fato se um estranho não interferisse
na organização do tabuleiro. Era como se uma lasca de madeira no lugar de um
peão expusesse a fragilidade de uma partida de xadrez. Em outras palavras, a
única pessoa que não poderia reconhecer o “antiético presente”, caso houvesse
um, era o novato. Segredos de quase uma década de amizade estavam sobre a mesa
gratuitamente e ninguém percebeu.
Minha observação não tem o menor fundamento porque estávamos
entre amigos em uma mesa, longe da bancada da ONU, mas achei tão intrigante o
fato de que estamos a todo tempo mascarando nossos discursos e comportamento, que
nem nos ligamos que um simples pedido pode ser mais preciso que um raio X do
que somos intimamente.
Características primárias e imutáveis da essência de cada um
boiando em drinks de cegos. Não estávamos ali para encarar estes fatos, dada às
características da reunião e a liberdade de sermos o que somos e nos mostrarmos
como quisermos entre amigos. Mas a máxima que diz que “o homem nasce para
aquilo que ele é” ficou tão clara para mim naquele momento que achei válida a
reflexão e um bom motivo para voltar a escrever.
Para finalizar, um recado ao recém-chegado.
Minhas sinceras desculpas e seja bem-vindo. Te dou a minha palavra que jamais revelarei sua identidade. Todo e qualquer trecho que o exponha nestas linhas, tenha-os como uma homenagem bem humorada, porque se eu tivesse que decifrá-lo pelo seu pedido, diria que ambos eram os mais alegres da noite.
Minhas sinceras desculpas e seja bem-vindo. Te dou a minha palavra que jamais revelarei sua identidade. Todo e qualquer trecho que o exponha nestas linhas, tenha-os como uma homenagem bem humorada, porque se eu tivesse que decifrá-lo pelo seu pedido, diria que ambos eram os mais alegres da noite.
L.P.
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