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Este blog não pretende ser correto, fonte de pesquisa ou referência para seus interessados. Ele foi pensado para que outros homens e mulheres entendam melhor como nós (homens) podemos ser românticos, chatos e invariavelmente humanos. O que pensamos das artes, das coisas que não entendemos e principalmente de nós mesmos. Neste blog há espaço para homens de todas as idades, raças, classes sociais e orientação sexual. É feito de pensamentos livres, sem dogmas culturais ou religiosos.


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quinta-feira, 5 de julho de 2012

Diário de Bordo / Europa 2012 – Parte 1.


ROMA.
 
Uma das minhas maiores ambições é sem dúvida o conhecimento. Acredito que de tudo que nos possa ser tirado, o conhecimento é a única coisa que só se perde com a insanidade e a morte. Pobre ou rico tendo ou não onde se sentar, para contemplar o conhecimento basta apenas interesse no coração e tempo para se dedicar.
 

Sou daquelas pessoas que demoram a acreditar no que os olhos vêem e que precisam tocar em tudo para terem certeza de que algo “É” realmente. Imaginem esta pessoa solta numa cidade em que cada coisa parece existir para te chocar. É um “parque de diversões” do conhecimento onde a presença do homem está marcada por milênios de existência cognitiva na mínima pedra que fazemos rolar ao subir a colina do Palatino Romano. É diferente de tudo que se pode ver e sentir porque a nossa percepção parece não estar adaptada para tanto tempo de história. Parece mentira. Cenário idealizado para atrair turistas curiosos. 

Algumas vezes não fazia diferença se uma coluna ou muralha tivesse sido criada no século III a.C ou XI d.C. porque minha mente processa a informação de forma analógica. Ou seja, preciso que todo processo seja representado em escala do começo ao fim, como no velocímetro do carro. Talvez porque minha cultura e a forma como aprendi a “curta” história do Brasil funcione como uma escala. Cabral sai de Lisboa a caminho das Índias e no dia 22 de abril de 1500 descobre, sem querer, o Brasil. Depois disso, sai ouro, entra navio, rompe-se o tratado de Tordesilhas, chegam mais navios portugueses, holandeses, franceses, etc. Nasce um bebezinho lindo na França e dão a ele o nome de Napoleão Bonaparte. Depois de crescido, ele resolve conquistar a Europa e põe pra correr a família real portuguesa que entre China, África, Índia e Brasil, escolhe o último destino por ser mais perto ou simplesmente porque tinha que ser assim. É abolida a monarquia, entram os militares, depois os presidentes civis e agora somos a sexta economia com a Dilma na direção. Uma linha do tempo complexa, mas breve em seus 500 anos de história. 

Na Roma Antiga esta “escala” pula do século XIV para muito antes de Cristo e entre tantos imperadores se sobrepondo fica muito difícil entender a sucessão. Cada um querendo aparecer mais que outro, construir templos mais magníficos, conquistar cada vez mais territórios e tantas outras coisas. No final aquilo virou um tormento na minha cabeça e já não me interessavam as histórias de Júlio César, Augusto, Cláudio, Calígula ou Tito. Eu confundia todos os períodos e busquei entender apenas o que estava tão bem representado no contexto histórico: a beleza da cidade e o poder do acaso. Não meramente o acaso, mas muito dele.

Depois que a Roma antiga havia passado (nem tanto porque toda hora se tropeça em algo) outra cidade se apresentava, a religiosa, ou Roma Cristiana como eles chamam. No Estado do Vaticano fui visitar a magnífica Basílica de São Pedro e seus tesouros. Fiquei muito tocado pelo fato de que foi provado que sob o altar da basílica está enterrado São Pedro, um dos doze apóstolos de Jesus e o primeiro Papa. Por esta razão, muitos Papas, começando pelos primeiros, têm sido enterrados neste local. Sempre existiu um templo dedicado a São Pedro em seu túmulo. Inicialmente era extremamente simples, mas com o passar do tempo os devotos foram aumentando o santuário, o que culminou na atual basílica. Embora a Basílica de São Pedro não seja a sede oficial do Papado, certamente é a igreja que mais conta com a participação do Papa. Uma vez que a maioria das cerimônias papais é realizada ali devido à sua dimensão, à proximidade com a residência do pontífice e à localização privilegiada no Vaticano.

Depois da basílica de São Pedro foi a vez do Museu do Vaticano, antiga residência papal. Obras magníficas desde a Roma Antiga até o Renascimento estão catalogadas e expostas nos seus salões ricamente decorados pelos maiores artistas de todos os tempos. Entrar na Capela Sistina, onde se realiza o Conclave (eleição do novo papa) e perceber que a obra A Criação de Adão, de Michelangelo, é de longe a mais interessante, foi como andar nas nuvens. Mesmo com uma multidão vazando pela porta como água. Hoje, quase um mês depois, me lembro apenas do que meus olhos viram e das sensações na pele, do ar frio circulando e dos rostos paralisados diante de tanta beleza. Não tenho registro de som algum no local, apesar de lotado. Só me lembro daquelas imagens quase pingando do teto.

Quando eu cheguei a Roma não tinha muita noção da força que a cidade exercia sobre sua própria atmosfera. Parece que existe um vórtice que joga o ar de todos os cantos para dentro dela. É uma energia muito forte, uma pressão contra o solo. Com tanta beleza e riquezas de valores históricos inestimáveis não poderia ser diferente. Muitos comentam sobre a energia que emana do Coliseu, mas que eu não senti. É magnífico. Mas devido ao tempo, os espíritos dos gladiadores devem tê-lo abandonado e hoje é um lugar de paz. A Pietá de Michelangelo, dentro da Basílica de São Pedro, está tão longe do público que através dos livros é possível ter uma ideia melhor da sua beleza. O Panteão de Agripa (27 a.C.) permanece fiel à sua forma original, apesar de ter sido destruído por um incêndio e reconstruído por Adriano em 127 d.C. É preciso entrar nele e ler sua história mais de uma vez para se ter noção da sua grandiosidade. O Vaticano e suas conquistas papais ergueram um estado rico com relíquias dignas dos mais antigos reinados e uma história de poderes que homem algum jamais terá novamente. Tudo junto e misturado num transito infernal com calçadas repletas de indianos e africanos praticando o comércio de todo tipo de quinquilharias e artigos de luxo falsificados. São milhares de pessoas nas ruas, o que torna difícil identificar quem é turista ou cidadão, salvo pelas caras perplexas a cada esquina. 

Ficam as dicas:

1- Roma é muito cara. Programe sua estada com toda cautela para não desperdiçar seus Euros. Vale a pena passar nos mercados e abastecer o quarto com sucos, iogurtes, pães e outras delicias que você só encontra na Europa;
2- Não compre o Roma Pass, ticket que te dá direito a entrada nos museus, Forum Romano, Vaticano e etc. Custa €90,00 e te aprisona por 3 dias. Crie um roteiro de acordo com seus interesses, assim ficará mais satisfeito;
3- Se você não fala italiano, fale pelo menos inglês. Mas se não falar nenhum dos dois vá assim mesmo;
4- Prefira fazer todo percurso na cidade a pé, o transito é louco e os pontos turísticos não são distantes um do outro;
5- A cidade é muito mal sinalizada, leve seu guia de Roma em português para garantir.
6- A noite em Roma é parada. Não vá pensando em grandes emoções, baladas e afins porque a frustração é certa;
7- O Coliseu e a Fontana de Trevi devem ser vistos durante o dia e também a noite. São dois momentos que fazem a diferença no olhar;
8- Compre só a primeira garrafa de água e depois reabasteça pela cidade. Existem mil fontes de água potável, uma em cada esquina.
 

Aproveite!
L.P.

2 comentários:

  1. Impressionante! Ao ler seu texto me senti revivendo cada momento que la vivi! Vc é d+

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  2. Envolvido, é assim que eu me sinto depois de ler esse belo texto e essas imagens. Você soube, como ninguém, descrever o quão emocionante é visitar esses locais e, mais ainda, deixar naqueles que lêem uma vontade imensa de visitar tais locais. Parabéns!!!

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