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sexta-feira, 3 de junho de 2011

Tratado sobre o tempo

Para André Lynch, Fábio Muniz, Marcos Dávila, Patricia Avelar, Leandro Massaferri e Airton Mendonça.

Ontem, antes de dormir, dei aquela última olhada nas atualizações do Facebook e a última coisa que li foi o Andrezinho dizendo que a semana tinha se arrastado, eu discordei na hora, para mim ela passou voando. Quando me deitei veio aquele turbilhão de pensamentos que a gente não consegue evitar e todo tipo de especulação para uma explicação do porquê do tempo passar tão rapidamente. Eu sempre acreditei em referencial, e até experimento um pouco disso toda vez que viajo, pois quanto mais coisas você faz, e quanto mais distintas uma das outras são, fazem parecer que o tempo rendeu, mas ele só foi bem aproveitado.

Nunca acreditei que isso tivesse a ver com o fim dos tempo segundo os livros religiosos, pois essa sensação de emergência temporal varia muito de cultura, cidade e pessoa. Não é possível que no Rio o dia tenha 18 horas, em São Paulo, 9h e em Vitoria ou São Matheus, 32 horas. O dia e a noite continuam tendo o mesmo tempo, os relógios estão aqui para nos provar isso. O diferencial é ter, ou não, coisas para fazer, sejam úteis ou completamente inúteis

Quando acordei esta manhã, antes até de abrir o olho, fui pesquisar pra entender melhor o porquê dessa sensação e olhem o que eu descobri:

Para a psicóloga Maria Alice Pimenta, professora da UFRGS, a noção de tempo tem muito a ver com a nossa memória e nossas expectativas. Quando éramos crianças não tínhamos nenhuma noção do nosso tempo, por isso tínhamos grandes expectativas para que algo acontecesse. Na hora eu não entendi muito bem o que ela quis dizer, mas depois percebi o óbvio. Com o cotidiano e a baixa expectativa por novidades, o tempo parecer mais veloz, "avoa" como diria minha vó Cecília. Só para ilustrar o comentário tente se lembrar do dia que marcou aquele encontro super esperado e o dia parou, a tremedeira durou a tarde toda e a cada 2 horas, quando você olhava no relógio, só tinham passado 15 minutos (rsrs). E aquela resposta da entrevista de trabalho que mudaria a sua vida e que não chegava nunca, quase te derrubou de tanta dor de cabeça, daí você tomou 3 Neosaldinas, que a bula promete efeito em 15 minutos, mas nunca aconteceu. Sem falar naqueles que acabaram de perder seu emprego, o tempo que não tinham antes passou a sobrar e se tornou incrivelmente inútil (relaxa Faísca).

Um outro estudioso, que não vou lembrar o nome dele, diz que nosso cérebro é extremamente otimizado, ele evita fazer duas vezes o mesmo trabalho, por isso a maior parte de nossas ações diárias é automatizada. Quando você vive uma experiência pela primeira vez ele dedica muitos recursos para compreender o que está acontecendo, isso acontece, por exemplo, quando estamos aprendendo a cozinhar, digo por mim. No início é tudo muito complicado, mas com a prática torna-se algo em que você não precisa mais "pensar" para realizar. Estas ações automatizadas passam despercebidas por nós, ou seja, o que faz o tempo parecer que acelera é a rotina.

Outro fator que desencadeia esta sensação é a ansiedade, muita coisa pra fazer, mais tecnologia e muito mais cobrança. O maior problema para nós - digo nós, para aqueles que já passaram dos 30 anos - foi ter vivido numa época pré-internet e pré-informatização, numa época em que tudo demorava e nada era urgente, tinha-se prazo para desenvolver seus trabalhos e projetos, mesmo porque, não tinha outro jeito. Agora, nós mesmo nos cobramos isso porque podemos comparar entre morosidade e rapidez.
Porque não pensei nisso antes?!

Para quem já está achando o texto longo demais, não desanime, agora vem a parte boa, o "pulo do gato", o que talvez um monte de gente já deva ter pensado, mas esqueceram de exercitar e, o mais importante, me participar da boa-nova.

Para Airton Luiz Mendonça (O Estado de São Paulo) o antídoto contra a aceleração do tempo tem uma sigla, M&M (Mude e Marque) e funcionada da seguinte forma: mude fazendo algo diferente sempre, e marque, com se fosse um ritual de registro, tipo festa, foto ou coisa parecida; Viaje sempre nas férias, preferencialmente, para um lugar quente, um ano, e frio no seguinte e marque com fotos, cartões postais e cartas; Tenha filhos (ou cachorros, gatos...), eles destroem a rotina, e por mais que o nosso tempo pareça passar mais rápido ainda, sob a ótica de duas vidas em uma, temos a sensação de que estamos vivendo mais; Faça festas de noivado, casamento, bodas disso e daquilo, vá a shows, cozinhe uma receita nova, escolha roupas diferentes, tenha amigos diferentes com gostos diferentes, religiões diferentes e que gostem de comidas diferentes; Se você odeia Forró, tente aprender a dança-lo até conseguir, isso vale para lambada, xote, samba, funk ou qualquer outro rítmo que você não goste (isso é importante); Não passe tanto tempo no Facebook, principalmente a noite, pelo tempo que você vem usando o microblog, seu cérebro já o faz automaticamente e aposto que você nem sabe quantos comentários ou fotos curtiu no dia anterior.

Fora a parte cômica do que diz respeito ao tema e aos exageros do método M&M, viver intensamente muitas vezes depende de ações mais simples no nosso dia-a-dia, cada um deve estabelecer suas prioridades com equilíbrio para evitar a ansiedade e as vezes até depressão, agradar-se primeiro para depois os outros e o sistema é um ingrediente importante para o sucesso da receita.
Bom final de semana e aproveite bem o seu tempo.

L.P.

4 comentários:

  1. Caraio, Luciano! Adorei seu texto! Vc soube muito bem divagar, arrisco eu, apesar de o texto não ser tão curto, e de forma concisa, sobre a dicotomia ansiedade/tempo que assola a todos nós nos dias de hoje. Texto bem enxuto, linguagem clara e ainda vc consegue dá uns pitacos que, a meu ver, reflete a mais etérea verdade. E seu parecer sobre o tempo... putz, nem vou comentar. Porque qualquer comentário meu que eu faça a respeito do que está escrito aí acima vai parecer pleonástico. Parabéns!

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  2. Vivendo isso atualmente! Uma transição boa! Por favor, continue escrevendo. Eu não sei porque, mas a conectividade dos seus textos, na ordem que vêm acontecendo, parecem compor um diário exato da cronologia que tenho vivido; de momentos, sentimentos, sensações, desejos... é isso!

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  3. Pois é..lendo isso eu compreendo que é justamente por isso que até hoje lembro de cada momento da viagem dos meus sonhos, tudo é tão claro..e olha que já se passaram dois anos, mas a sensação é de que foi mês passado. Devido a essa sensação de rapidez, que hoje é cada vez mais comum nas pessoas..fizeram delas individuos previsíveis, acomodados, sem graça. Uma pena... Ainda bem que existem pessoas que fujam desse óbvio e consigam fazer da sua vida, seus dias, momentos oportunos e proveitosos. Eu por exemplo, por esperar tanto que certa coisa aconteça..vivo na maior expectativa, e cá pra nós..toda vez que lembro disso, são os dias mais longos possíveis! Enfim...lendo esse texto, que por sinal muito bem escrito, vejo que (in)felizmente, já faço tudo isso! Claro que me alegra de saber que outra também não se conformaram com esse tempo que passa num piscar de olhos, e sabem aproveitar a vida!!! Parabéns...valeu a pena ler tudo isso!!

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