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terça-feira, 31 de maio de 2011

O meio-termo da felicidade

Para Luciana Gomes.

Na sexta-feira, quando decidi passar o final de semana em Xerém (novamente) o fiz por três motivos distintos:
1- Estava sem dinheiro, fim de mês atrai bolso vazio, é a lógica proletária;
2- Estava morrendo de saudade da minha família, principalmente do meu sobrinho;
3- Estava frio e chovendo e eu adoro o frio úmido da serra.
Se o tédio não se intrometesse, eu ficaria na boa, certamente o final de semana seria maravilhoso, era só eu mantê-lo longe que aproveitaria o ócio e o ar fresco pra produzir boas idéias. Então, enfiei umas revistas e dois livros na mochila, coloquei também um short de dormir, uma camiseta branca, remédio de nariz (frio é bom, mas nem tanto) e parti na tarde de sábado feliz da vida.

Essas viagens de ônibus dão tempo de você fazer um monte de coisas entre os pontos de partida e de chegada. Algo que possa ser manipulado no espaço entre o tórax e o encosto da poltrona da frente, ou seja, ler. Livros, jornais, revistas, nada de fazer as unhas, descolorir os pelos ou arriscar uma cantoria. Colocar a leitura em dia é, e sempre será, a melhor opção nesses casos.

De dentro da mochila, entre as últimas edições da revista Veja e dois livros - O Mundo de Sofia (romance da historia da filosofia) e O Pessimismo e Suas Vontades -, ambos de filosofia, tirei o segundo e resolvi reler uns trechos do trabalho do alemão Arthur Schopenhauer e logo fui tragado para dentro das páginas pelo fluxo “hemorrágico” das suas idéias e absorvido por uma força que fez o tempo passar rápido, empurrando a luz do sol para baixo das rodas e pintando com as cores da noite a janela atrás da cortina. Esforcei-me para não reler Marx e Darwin no primeiro livro para dar uma atenção a outro queridíssimo filósofo e suas magníficas teorias.

Sendo raso mesmo quando Schopenhauer merece profundidade, vou falar rapidinho do que mais intriga na sua maneira de pensar, a vontade. Segundo ele, a vontade torna o homem miserável porque faz do desejo a sua força vital. Ele vive porque deseja conquistar algo, trabalha porque tem necessidades, casa-se porque precisa se relacionar e depois que realiza todos os seus desejos, volta à posição de miserável (lê-se necessitado) e logo busca outra razão para continuar vivendo. Então muda de trabalho, troca de carro, de mulher (marido), vende a casa que lutou tanto pra conseguir e faz qualquer coisa que possa libertá-lo do fracasso de simplesmente viver tranquilamente. Inspira-se na sociedade louca e consumista e motiva-se pelo querer, que geralmente nasce do interesse pela vida do outro.
Cansativo demais, eu concordo, mas fazemos isso o tempo todo sem perceber e colocamos a felicidade exatamente no final desse desejo, onde começa a realização, mas também, onde começa a contagem regressiva para uma nova necessidade e o início de uma nova epopéia sem fim.

Meu final de semana interio se resumiu a isso. Lembrei-me que quando estava bem de grana não passei por nenhum período depressivo, e que agora, do dia 1º ao 5º dia útil de todo mês, para cada conta, um Diazepan de 10mg. Já comprei toda a felicidade que pude, calças, camisas, sapatos, férias na Europa. Construí uma casa, fui plenamente satisfeito. Agora desejo um monte de coisas novas que não posso ter por enquanto e já me sinto mal. Será que eu quis pouco e trabalhei demais e agora apresento cansaço? Será que se eu quiser menos e trabalhar o equivalente terei mais qualidade de vida e serei mais feliz? Em que ponto a felicidade pode ser saudável se no momento em que ela se torna plena colocamos tudo a perder?
Será que precisamos desejar menos para vivermos mais e estancar essa sucessão de vontades e satisfações que nos empurram para o vazio a todo tempo? O pêndulo entre a necessidade e a satisfação deve oscilar menos entre os extremos, quase parando, para que o sofrimento por não ter o que se deseja não produza tanta gente emocionalmente instável, antiética e imoral. O homem do SER deve ser maior que o homem do TER, esse é o caminho da verdadeira felicidade e já está dentro de nós.

Antes de voltar pra casa ainda ouvi da minha mãe que eu estava muito anti-social no final de semana. Não dá pra pensar e refletir tanto e ao mesmo tempo alimentar tartarugas, dar banho no cachorro e “plantar bananeira” pra fazer meu sobrinho sorrir. Uma coisa de cada vez, neste final de semana foi preciso relativizar a felicidade para eu começar a viver melhor.

L.P.

9 comentários:

  1. Schopenhauer abrange bem sobre o assunto, talvez ate mesmo para ele fosse dificil imaginar o ano de 2011 e suas palavras ainda fazendo efeito, tem uma certa distancia ai de 1788 pra ca, ne ? Ao mesmo tempo que Platao tambem dizia que "necessity is the mother of creation". E isso muuuuito antes do Schopenhauer. Em resumo, {pronto e correndo para embarcar de volta}como voce mesmo comecou, a questao eh o meio termo. E se me perguntar qual esse o seria, te voltaria com a pergunta basica, de onde quer chegar, so assim saberemos quando ou onde eh o meio. Tenho acreditado que os novos fatos da vida sao simples consequencias aos outros que tomamos, sejam com $ ou sem. O que tem valido eh viver tranquilamente ! abs VD

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  2. Amigo, eu te amo de uma forma que vc nem imagina... Te admiro com uma intensidade digna de babador... E leio os seus textos como se estivesse lendo "O mundo de Sofia", absorvida num mundo de idéias reais, palpáveis e que me fazem descobrir facetas de mim mesma que eu nem sabia... Que seu próximo fim de semana seja mais alegre e que possamos nos reencontrar. Sinto uma falta enorme disso! Bjos no coração...

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  3. Qual a maior riqueza,senão a inteligÊncia,o carisma,a comunicação, a transparência e a simplicidade?


    Sabe, vejo-me sempre sofrendo por antecipação, mas tento não mais me permitir a isto.
    Diante de tantos sentimentos angustiantes em minha vida (preocupação, tristeza, depressão, etc) eu procuro somá-los para um único resultado,pelo menos útil,que é a preparação.
    E... posso dizer que vivo em uma constante preparação, seja para felicidade, seja para as frustrações, mas sempre coloco Deus à minha frente.
    Hoje sou feliz por vários motivos: família espetacular, amigos (que são a extensão da minha família, amigo maravilhoso que hei de conhecer um dia), obstáculos sendo vencidos, conquistas iminentes, saúde impecável.

    Cada vez mais me deparo com situações (lançadas por Deus) que nem sempre são fáceis, mas gratificantes no final.

    Luciano, se eu tivesse um pouco das qualidades descritas no primeiro parágrafo (as que vejo em vc)... já teria escrito um livro.

    abração.

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  4. Para Vinícius Duarte.

    Sempre sabemos o que vai nos trazer felicidade mesmo que depois ela se torne uma lembrança e o vazio se reinstale, mas não podemos parar, seguimos em frente. Sejamos plenos com a certeza que a coisa é toda efêmera, uma hora vai passar, mas que tenha cido muito bem feita, bem vivida.
    Isso é você Vine, meu querido amigo!
    Beijão

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  5. Amei! Quero pontuar uma coisa: todo este TER está do lado de fora de nós... Para mim, para ser feliz é importante SER antes de TER. O Ter só nos faz esquecer de quem somos, nos afasta de nós mesmos, tira a nossa atenção do que eu realmente sou. O ter faz parte da sociedade consumista em que vivemos e portanto é preciso combater. É possível ser feliz tendo pouca coisa e sendo muita. É isso que eu penso... (Rúbia Paião)

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  6. Rubia, esse conforto traduzido na imagem, na nossa fotografia, para mim, é uma grande felicidade, e se existe o bem-querer e o repeito pelo amigo é certeza que o mesmo conforto tem garantias eternas.
    Beijão e obrigado pelo lindo comentário.

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  7. tem vezes q passam pessoas especiais por nossa vida, mas por falta de atitude ou medo, elas simplesmente passam. Falta visao? sensibilidade? ou entrega? o medo do novo, o conforto do conhecido, a liberdade, seja o q for, impedem o aprofundamento das relaçoes e dos sentimentos na busca da plenitude. Podemos ser plenos sozinhos? nao tenho duvida, mas pq estar só se estar acompanhado é bem melhor? A felicidade esta dentro de nós, já sabemos, mas como encará-la (ou reconhecê-la) quando ela bate na sua porta? a vida... ah.... a vida..... só ela ensina. Uns aprendem, outros....
    boa semana!
    O Aprendiz

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  8. e ae, tu recomendou, e vim e de cara ja gostei tb tenho um blog, depois tu vai la nome é filho de avalon, mas achei engraçado qdo tu colocou o livro a viagem de Sofia, qdo li este livro vivi momentos de dejavu, qdo começam a descrever o mediterraneo, e sobre a vida amigão passei por momentos bem parecidos aos teus, sendo sincero pra ti não to nos meus dias mais ricos, porem se é adulto tem de pagar por estes encargos. Quem me dera entrar em um tunel do tempo e reviver meus momentos de "pequeno principe". Mas agora sendo eu adulto, tenho sempre de calçar minhas velhas botas de guerra e ir ao combate. abraço. Virei sempre aqui

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